(budista) A determinação de conciliar tudo

Estávamos nos primeiros meses de 2002 e fazia um ano que eu morava em São Carlos. Na cidade, havia um distrito com três comunidades. Eu era responsável pela Divisão Masculina de Jovens da Comunidade 3 de Maio.

Preocupada com o desenvolvimento da organização na localidade e com algumas dificuldades que persistiam, a líder central me perguntou o que poderíamos fazer para acelerar o avanço e resolver aquelas questões. Se o problema era com a postura de alguns líderes, deveríamos conscientizá-los da sua missão, criando uma grande onda de ânimo em que todos se desenvolvessem e se empenhassem alegremente. Sugeri então a realização de um Curso de Aprimoramento. Ela gostou da ideia e prontamente manifestou seu apoio.

Imediatamente iniciamos os preparativos formando uma comissão da Divisão dos Jovens juntamente com os líderes do distrito. Mesmo como proponente da atividade, tomei cuidado extra. Como eu não era líder de toda a localidade, mas dirigente de comunidade, fiz de tudo para não parecer que eu estava passando na frente dos líderes do distrito e muito menos que eu tinha a arrogância de querer ensinar aos demais responsáveis de comunidade e de bloco.

Fizemos várias reuniões de planejamento e de Daimoku, pesquisamos as matérias oportunas para cada dificuldade, confeccionamos apostila, fizemos uma ampla divulgação com antecedência, preparamos dinâmicas, convidamos dirigentes da Área e da Região Metropolitana (que na época eram de Monte Alto e Ribeirão Preto, respectivamente).

O curso foi programado para o dia 9 de junho de 2002. E os preparativos estavam a todo vapor.

Nessa época, eu trabalhava numa empresa de consultoria e precisava viajar frequentemente para Orindiúva/SP, Guaíra/SP, Sertãozinho/SP, Orlândia/SP, Maurilândia/GO, entre outras cidades.

No início da semana do curso de aprimoramento, o diretor da empresa comunica o surgimento de um novo cliente em Imperatriz, no Maranhão, e diz que no final da semana iria para lá para as negociações. Todos ficaram felizes com a notícia. Prosseguindo, ele comunica que quem iria acompanhá-lo na viagem seria eu...

Gelei. Não consegui exprimir reação. Era algo muito positivo ter sido indicado para tal tarefa. Seria também a minha primeira viagem de avião. Porém, seria justamente no mesmo final de semana do curso de aprimoramento que eu mesmo havia proposto e estava engajado há meses nos preparativos. Não poderia simplesmente dizer que não poderia participar no curso. Tampouco poderia recusar um compromisso de trabalho, ainda mais diante de tanta confiança da empresa.

Continuei gelado e mudo nas horas e nos dias que se seguiram. Rompia a mudez para recitar muito Daimoku. Se eu já estava desafiando a mim mesmo e ao escasso tempo para orar pelo sucesso do curso, agora os esforços eram redobrados. Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo...

O que fazer? Como era compromisso de trabalho, a minha ausência no curso seria justificável. Eu poderia tranquilamente deixar a responsabilidade da atividade nas mãos de quem estaria presente. Mas não, o meu desejo era cumprir dignamente ambos os compromissos. Meu sentimento era o de estar presente tanto no Maranhão como entre os companheiros da Gakkai. Precisava cumprir tanto a minha missão profissional como a de líder. Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo...

Passados três dias de apreensão, meu chefe comunica que não houve tempo de preparar tudo que era necessário para as reuniões de negociação e que a viagem havia sido adiada. O alívio que senti é inenarrável!

Realizamos o curso com toda alegria e sucesso. A atividade foi elogiada como “de alto nível”. Os companheiros saíram muito encorajados e foi nítida a diferença na sua disposição de atuação e nos resultados das organizações.

E na semana seguinte, parti com meu chefe para Imperatriz. Visitas, reuniões, testes, negociações e as empresas fecharam contrato.

Na ida, não conseguimos embarcar porque houve overbooking (quando a companhia aérea vende mais bilhetes do que a capacidade do voo, com base na média de desistências, e todos os passageiros comparecem). Para minimizar os danos da situação, a companhia aérea devolveu-nos o dinheiro da passagem e alocou-nos em outro voo. Eu, que nem havia pago a passagem (por ser a cargo da empresa), ainda recebi cerca de 500 reais de “restituição”.

Conclusão: podemos fazer tudo que quisermos e ainda colheremos os doces frutos do esforço.

(Catalão, 14/07/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 15/07/2009
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