PAZ POR FIM
Paz por fim
Marília L. Paixão
Há pessoas que são frágeis como papel de seda. Outras nascem para resistirem aos trovões e as pernadas, aos afagos e as derrubadas. Eu vivo mudando o meu tapete de lugar, pois se desgosto de alguma coisa parto em busca de outras. Nascida no interior, mas crescendo com alma metropolitana, que bate e apanha.
Quem é que nunca teve inimigos imaginários? Melhor não dar corda, mas também não ignorar a maledicência. Por dentro tentar apaziguar temores e ausências. Sossegar o peito cheio do amor nunca exato que entorna de tanto exceder.
Mas e as pessoas que declaram guerra até para os seus considerados amores? Deve ser também amor imaginário já que essas pessoas amam em um dia e odeiam no outro. Como será contemplar o próprio rosto?
Essa grande era da informática será que nos oferece a era das falsificações? Falsas paixões, falsos amigos sem corações? É tudo tão deletável! Uma amizade, uma resenha, um download. Até uma briga de bar é mais calorosa que uma guerra virtual com certeza. A vantagem é que não sobram copos quebrados e nem cadeiras sobrevoando cabeças.
As lesões são mais frias. Mas é um frio sem jeito de aquietar, emoções ou ressentimentos não escolhem hora de alastrar. Fico a contemplar a frieza das relações que acabam sem nenhuma palavra amiga, como se fosse o fim de namoro entre ex amantes que se engravidam de outros e sonham com outros. Sobra só a distância para a paz sobrevoar por fim.