ESSA É BOA, VAIS RIR.

Na semana do meu casamento - em 1970 - papai resolvera comprar um carro 0K. com quatro portas para me conduzir até a igreja. Era o seu pensamento que seu carro particular de duas portas iria amassar meu vestido que culminava de longas caudas. Queria um casamento de princesa dentro de suas posses. E assim o fez.

Hoje não se precisa comprar carro novo para conduzir as noivas, basta alugar uma limousine que dará ainda mais encanto e magia aos nubentes e convidados. O que não ofusca a lembrança da pompa que deu o wolkswagen quatro portas zerinho que papai me conduziu até a igreja.

Era finalzinho de tarde, mas com o espírito imbuído na compra do carro, fomos até a agência. E lá o proprietário da agência e seus funcionários jogavam truco no interior da loja.

Papai era olhado com certa estranheza por ser um mineiro bem acompanhado do seu sotaque, do qual dizem as más línguas, ser caipira. Sua vestimenta era simples e bem interiorana. Calça e camisa de brim caqui, botas velhas sempre queimadas de cimento e chapéu de aba. Seu grande bigode lhe dava um charme ao rosto, que ainda hoje aos oitenta e quatro anos, mantém a antiga beleza. Papai tinha carros de praça e era construtor, era mesmo um homem bem sucedido apesar da sua simplicidade. E morava em São Paulo desde que se casara.

Entramos na loja e já começamos a ver os carros. Havia vários Wolks a disposição para pronta entrega.

Ficamos por uns quinze minutos vislumbrando com encantamento, os veículos. Papai já estava indignado pelo fato dos atendentes estarem jogando em um mezanino com vista para a loja, sem ao menos lhe dar atenção. Então papai tirou o chapéu e gritou:

- por favor, moços, quanto vale esse carro? Ao que o dono da agência lhe respondeu o valor em tom baixo e com ar de descaso, até meio que rindo. Papai inconformado disse em tom mais audível com seu sotaque mineiro:

- Por favor, fale um cadinho mais alto. E para nossa surpresa o próprio dono da agência, respondeu:

- o senhor tem dinheiro pra comprar o carro? Ao que papai lhe respondeu:

-Se o senhor tivesse deixado de jogar truco para me atender eu teria. Assim sendo, bom jogo. Saímos.

Entramos em outra agência na mesma quadra. Finalzinho de tarde, não podíamos mais esperar vez que, as lojas fechavam 19h00min. Tínhamos uma hora para sairmos com o novo carro. Papai e eu fomos muito bem atendidos pelo vendedor e pelo dono da agência, que como brinde me dera uma agenda.

Papai saiu com o carro novo buzinando com intuito de chamar atenção do dono da agência que o atendera com descaso. A sensação de revanche o aprazia.

Por acaso o empresário e seus funcionários - mais precisamente parceiros de truco - estavam fechando a loja sob um olhar desapontado ao papai que imponente parou o carro diante da loja, e ainda buzinando gritara: TRUCO FILHO DA PUTA?! Seguimos.

Lúcia Borges
Enviado por Lúcia Borges em 02/06/2009
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