Casa de Poeta.
Amanhecia constantemente na casa da poetisa. Alaranjado brilhante, para ser mais exata, foi a cor da casa de Adélia Prado, durante muito tempo, conforme o poema.
Casa de poeta ou coisa de poeta?
Não importa.
Importa a cor amanhecida e linda.
Não me sentiria confortável amanhecendo a toda hora. Minha casa seria azul celeste ao meio-dia. Quando a tarde caísse eu a pintaria de dourado e ficaria na frente admirada até me dar conta da noite que nunca falta e se adianta nessa época do ano. Com minha falta de jeito pintaria estrelas destorcidas e uma lua nova no cantinho.
Casa colorida é para poetas do porte de Dona Adélia. A minha é revestida de pastilhas sem gracinha, mas bem prática para a manutenção diz o senhor síndico.
Ainda assim vejo a rua, carros, gente e árvores daqui. Se espichar a visão alcanço um rasgo do verde que cobre as dunas que me separam do mar.
* Inspirada na casa alanrajada de Adélia Prado:
Impressionista
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Adélia Prado.