cólera do dragão!

Outro dia, uma amiga me disse que fora assaltada e levaram-lhe o celular. Disse ela que gostaria de contar que lutou com o bandido, que resistiu bravamente, mas o infeliz simplesmente puxou o celular de suas mãos e correu. Pois bem, quase fui assaltado ontem. Isso só porque eu tive uma dor de barriga. Hum, parece não haver relação com os flatos, digo, fatos, não é? Mas há!

Saindo do trabalho às 22h, no outro lado da cidade, entrei no ônibus e comecei a sentir os primeiros sintomas. Os que me lêem, já tendo passado por algo semelhante, entender-me-ão. Eu rezava para aquilo tudo passar, mas nada. Tentava me distrair com as bundas e peitos femininos que entravam no ônibus, mas nada. Tentava focalizar meu pensamento em futebol, em televisão, em qualquer coisa, mas o que restou de 10 pães de queijo, duas barrinhas de cereal e alguns biscoitos de chocolate era mais forte do que tudo.

O ônibus passou em frente a um shopping, o local ideal para eu descer e deixar algo lá – logo eu que sempre trago coisas de lá -, mas resisti e continuei. Alguns minutos depois, que na verdade me pareceram uma eternidade, tive que descer, visto que pego duas conduções para voltar. Desci e quase que algo desce pelas minhas pernas vindo de você sabe onde. Do outro lado da rua, um McDonald salvador. Pronto, o resto pode-se deduzir.

Saí aliviado da casa do palhaço. Peguei o outro bus e a viagem foi tranqüila. Entrou até um vendedor de doces, comprei dois Serenatas dele. Desci a algumas ruas da que moro, e quando estava subindo uma ladeira que dá acesso à minha, vejo alguém me seguindo. Continuo minha caminhada, atento ao barulho de passos que se multiplicam na rua deserta, às 23:30. De repente, olho para trás e ouço um "perdeu, maluco!". O que fiz?

"MANHÊÊÊÊ!!! POLÍCIA!!! BANDO DE FILHO DA PUTA!"

(Bando porque ao olhar para trás vi que eram uns quatro ou cinco que me seguiam).

Logo após eu gritar mãe, vi que todos correram apavorados. Também, acho que a minha voz no grito pareceu tão forte e grave quanto à de Max Cavalera. Vi a expressão de medo no que me abordou, um garoto magro, pés achinelados. Por que correram? Será que o meu "MANHÊÊÊ"sou aos ouvidos deles como um "cólera do dragão?". E por que eu gritei mãe? Bom, mal tive tempo de pensar no momento, foi instinto mesmo. Freud, a metonímia para psicologia, explica.

A dor de barriga, que eu tanto chamei de maldita, era bendita. Era um "sinal" (ou seja, vem merda por aí). Eu deveria ter descido na porcaria do shopping, assim chegaria ainda mais tarde em casa e os pivetes estariam dormindo.