A verdadeira origem da Reforma Ortográfica

Era num domingo, dia típico para um churrasco. Os convidados receberam o chamado na sexta-feira e todos compareceram. Estavam cansados de bancarem os “patrões literários” e pelo menos naquela tarde eram apenas pessoas comuns.

- Nada de assuntos intelectuais – disse o presidente da academia.

- Nada – responderam os outros convidados.

- Nada de discussões lingüísticas

- Nada.

- Nada de jogos do tipo “quem é o sujeito” ou “adivinhe a regência”.

- Nada.

Tudo ocorreu bem, os preparativos, as refeições. Ninguém havia tocado no assunto Língua Portuguesa ou Literatura. O churrasco acabou e todos foram descansar nas redes que havia à disposição de todos. Entediado, sem nada para fazer, Assis, o purgante , com referência ao mestre Machado, paralisou seu olhar na churrasqueira em que estavam alguns pedaços de costela e as últimas linguiças secas. Sem que ninguém tivesse esperando e para a tristeza da nação, abriu a boca:

- Lingüiça!

Todos viraram para ele e o silêncio tomou conta do evento.

- Desculpem-me, mas não consigo. Sabem que é um vício, pior do que o cigarro, pior do que as drogas.

- As linguiças? – perguntou o da cadeira 26.

- Não! Ficar aqui olhando para elas e não poder gerar uma discussão lingüística.

- Já falei que hoje somos pessoas normais – retrucou o presidente.

- Mas não consigo me controlar. E não há nada para fazer.

- Então o que você sugere?

- Vamos tirar o trema da lingüiça. Ninguém usa mesmo.

O presidente, por um momento ia dizer algo, mas franziu o cenho e pensou, até que, por fim, disse:

- Você tem razão. Ninguém está usando mesmo. Ô da cadeira 39, quando você foi comprar as linguiças elas estavam com ou sem trema?

- Sem. Eu pensei em corrigir o dono do açougue, mas como hoje é para sermos pessoas normais, deixei quieto.

- Está vendo como ninguém usa presidente. Sugiro até que retire o trema de todas as palavras.

- No meu nome ninguém mexe – vociferou o francês de sobrenome Müller.

- Tudo bem, nos nomes ninguém põem a mão.

- Que brilhante ideia Assis.

- Obrigado. Mas será que podemos mecher nos acentos também?

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 12/05/2009
Reeditado em 10/06/2009
Código do texto: T1589912
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