Com Pelo na Cara
Duas horas se arrumando e lá vai ela, linda, maravilhosa, depilada, perfumada, lingerie novo e sandálias de salto alto. A noite perfeita termina no apartamento dele, na manhã seguinte. Com direito a café na cama. Ela é acordada por um beijo gentil, dado por ninguém menos do que o romântico homem-ouriço. Parece gozação! Na véspera, ele estava perfeitamente escanhoado, a pele parecia de bebê. E agora, isso. Colaram um porco espinho na bochecha do sujeito enquanto ela dormia.
Ele percebe a reação dela e, intimidado, recolhe-se a um canto da cama, mantendo a bandeja e uma distância segura entre eles. É quando ela comete seu maior erro: compadecida, diz que a-do-ra homem com a barba por fazer.
Pronto. A partir dali, ela está fadada a ser lixada por inteiro cada vez que fizerem amor.
Fazer o quê? Resíduos atávicos de nossa história evolutiva, os pelos estão aí. Queiramos ou não.
É claro que um homem com a barba por fazer tem algo de charmoso, viril. Mas na hora do "vamos ver" é, no mínimo, gentil, dar uma limpada na cara.
Sei que não é tão simples assim, sejamos justas. Assim como nós sofremos com as constantes depilações, os pobrezinhos também penam com o uso freqüente da navalha. Pelos encravados, cortes...
E é até covardia comparar. Eles só têm mesmo a opção do barbeador, elétrico ou não. Nada de cremes depilatórios ou cera quente. Embora esta seja, na verdade, de doer, ainda é uma opção para elas. Se bem feita, são umas três semanas de pele lisinha. Agora, imagina aquela dorzinha gostosa dos pelos sendo arrancados todos de uma vez na cara do sujeito. Uh! Fica aí a idéia, caso você queira se especializar na idealização de novos métodos de tortura.
O marido, uma vez, estava com a pele tão irritada que achou de viver à pinça. Claro que não deu certo. Além do enorme tempo necessário para livrar-se daquela pelaiada uma a uma, ainda era difícil pinçar os pelos, sem enxergar nada, os olhos rasos d'água. O sexo forte não agüenta sofrimento, não...
É quando eles resolvem deixar a bendita crescer. A maioria deles desenvolve então uma barba cheia e farta. Cheia de falhas e onde "farta" um pedacinho aqui, outro ali. As digníssimas ficam dando indiretas, tentando convencê-los a fazer as pazes com a gilete, dizem-lhe que ele está parecendo mais gordo ou mais velho, que a barba pinica, coça... Perda de tempo. É só ter paciência. Daqui a pouco ele volta ao normal, os amigos e, principalmente, as amigas pegando no pé.
Daí, "a primeira faz tchan, a segunda faz tchun e tchan tchan tchan tchan"*: tudo novo de novo. Na propaganda, vemos situações hilárias associadas a este fenômeno. A melhor de que me lembro, é a que o rapaz fura o silicone nos seios da namorada.**
Para encerrar, vou compartilhar com vocês minha melhor experiência junto a um homem com a barba por fazer. Sentava-me ao lado dele e ia me aconchegando em seu colo. Esfregava então, como um gatinho, os cabelos no seu rosto, até pentear todos os fios muito lisos. E meu pai ria da minha brincadeira infantil, aturava sua pimpolhinha fazendo-o de escova.
* Quem não se lembra desta propaganda da Gillete de 1992?
Veja de novo: http://205.209.99.11/post/2008/04/Gillette---A-primeira-faz-Tchan---1992.aspx
** Propaganda do Bic Comfort Twin, não sei a data de veiculação ou se chegou a circular no Brasil, mas vale a pena dar uma olhada: http://www.campanhapublicitaria.com/video/4725/Bic-Comfort-Twin
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Este texto faz parte do Exercício Criativo Barba por Fazer.
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http://encantodasletras.50webs.com/barba.htm