O BEIJA FLOR E O FOGO

Não sei se sou apenas um sentimental estúpido que acredita no ser hu mano, que deposita fé no próximo, que vê em todo o mundo amor e ter

nura, que acredita que pode contagiar as pessoas se agir com solidarie

dade, respeito e consideração, ou se sou apenas um idiota manipulável

e fácil de ser enganado.

Vejo tanta coisa acontecendo ao meu redor e ainda assim acredito nas

pessoas.

Estendo minha mão, certo de que estou fazendo a coisa certa, que, que mais uma vez não vou me arrepender... Mas acontece de novo!

Depois de tantas porradas, de traições, me engano novamente e mais uma vez dou o melhor de mim, mais uma vez me comovo com o sofri

mento alheio, e novamente recebo em minha face a ingratidão, desres

peito, depois de tantas muitas vezes ainda me decepciono, ainda sinto

a alma corroer.

Gostaria de ser como algumas pessoas, que como gafanhotos se apode

ram das plantações e devoram tudo sem piedade, sem consciência, far

tam-se da boa vontade alheia como os insetos, não importando-se que

um dia a plantação irá acabar.

Apenas querem, querem, e roem e roem, sugam e sugam, e a fonte se

ca, a alma definha e o vigor se esvai e o amor se acaba, o rancor a má

goa floresce como as flores na primavera, o ódio nasce dessa florada como os frutos no outono.

A vida torna-se como os dias cinzentos do inverno, a cólera ruge no peito como trovões em um dia de tempestade, e a certeza que se apre

senta é que não veremos o próximo dia.

É como me sinto, uma plantação invadida, um rio desviado, uma fonte seca, decepcionado, frustrado por não ter resultado no que faço.

Sinto-me um palhaço, um trampolim para que alcançem as estrelas en

quanto afundo em meu eu, íntimo, amargurado com a sensação de que nada que faça vai mudar o que acontece em minha volta.

Sou apenas um beija-flor... e a floresta já pegou fogo há muito tempo.

Renato Cajarana
Enviado por Renato Cajarana em 04/05/2009
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