No Ônibus

Ele entrou, sentou no seu lugar e começou a ler. Ao seu lado, uma garota, provavelmente da mesma idade, já estava lendo. Ele não deu muita atenção e seguiu sua leitura, e durante um passar de paginas, achou o livro dela familiar.

-Veríssimo- Ele pensou- Que coisa rara de se ver, uma mulher bonita lendo Veríssimo no ônibus! Vou puxar papo!

Mas como puxar papo sem atrapalhar a leitura dela? Atrapalhar a leitura alheia deveria ser crime, pena de morte no mínimo.

De acordo com que o ônibus se sacode, ele vai olhando de canto de olho qual é o livro. Pela cor da capa e pelas crônicas, ele deduz que seja “As mentiras que os Homens contam”. -Falcão, ótima crônica, morri de rir quando li- ele pensa- como ela consegue ler Veríssimo no mesmo ritmo que eu sem ficar rindo feito boba?

Nisso, o motorista apaga as luzes do ônibus por algum motivo desconhecido.

-Po, quale!- Exclamam ambos

-Liga a luz ai motora!- diz ele, ela olha feio na direção do motorista.

-Desculpa, pane elétrica -explica a cobradora- Depois a luz volta, por enquanto, serve essa?- e liga uma luz que serve pra ela trabalhar.

-Serve- respondem ambos.

-Veríssimo?-Ele comenta, mas ela nem da trela e continua a leitura

Ele guarda o livro, a luz, apesar de suficiente para ler o livro dela, não é o bastante pra ler seu velho livro de paginas amareladas, com uma fonte minúscula no ônibus oscilante. Ele então passa a relembrar do livro dela lendo por cima de seu ombro.

-Clic, tive de ler essa crônica umas 3 vezes pra entender. -ele pensa- No transito, eu ri muito dessa. Ela é um monstro sem alma, na primeira brecha vou perguntar como ela consegue!

Eis que o ônibus faz uma curva, ela fecha o livro, se levanta e desce do ônibus, e ele fica a devagar sobre como ela Le Luis Fernando Veríssimo sem rir.

E eles nunca mais se encontrão.