TUTU E COUVE COM LINGÜIÇA AO FORNO
 
 
       Ia sentar e escrever “estou avêssa a qualquer coisa”, mas a idéia era não almoçar nada, queria mais é um café mineiro que faço, no capricho, nos moldes da minha casa de Visconde de Rio Branco, e depois escrever.  Mas tinha que lavar a vasilha para o café e, quem acorda tarde querendo um café fresco com pão na chapa tudo quentinho, saindo fumacinha... E o contraponto de ainda lavar as vasilhas...
Bateu a intenção de ir direta para o teclado e digitar “estou avessa a...,  pois ia sair coisa boa daí, um texto interessante”, mas a decepção do café...
         Voltei à razão, fui á cozinha, juntei esforços e lavei o que precisava e fiz o meu café. E tomei.
         E corri pro Word e comecei a escrever, mas já não estava mais avessa a nada e nem sei mais o que ia escrever. Telefonei pro meu filho e combinamos para amanhã ir assistir o filme do Clint Eastwood, “Grand Torino”.       
         Disciplina é importante e sempre ensinei aos filhos e empregadas a disciplina no fazer as coisas, sei ensinar e sempre foi bem aprendido o que passei pra eles. Mas eu sou diferente da disciplina, se tem uma coisa que me incomoda é disciplina, mesmo reconhecendo a sua eficácia e valor. Agora que estou livre completamente, só faço disciplina por distração ou capricho. No normal mesmo desfruto da indisciplina com prazer, não por revolta ou qualquer coisa, mas uma liberdade assumida de dar espaço para as coisas mais importantes e imediatas para mim. Criação, por exemplo, é uma delas. Tudo que faço fora de hora é mais intenso e prazeroso. Inspiração, também.
         Sei que o leitor está lendo esta confissão, mas não vá seguir o exemplo; isso é para quem já fez tudo que tinha a fazer e está curtindo a liberdade de aproveitar o tempo como quiser.
E enquanto levantava, li um trecho de jornal com a foto grande do rosto do Ferreira Gullar, que adoro, e ele “diz que é certo chamá-lo de O POETA, que é o que ele é mesmo, mas que por ora está sendo “um pintor de domingos”. E neste pintor, está fazendo colagens com combinação de tons. Tudo que ele é eu adoro, inclusive aquele cabelo lindo, mas está ficando com a face  envelhecida e os olhinhos diminuindo, diminuindo, mas brilhando cada vez mais!
Quero dizer que entendo todas estas coisas. E a Arte e a Inspiração saem quando a gente respeita a si mesmo em primeiro lugar, como, quase não dando tempo e correndo atrás.
         Saquei que já estava correndo mais que minhas pernas, pois o pensamento corre mais que tudo. Então, segurei as rédeas e liguei pra Célia minha amiga, dona de um restaurantezinho aqui da Rua Conde de Lages, o LETARI, que tem uma comida caseira deliciosa, e pedi o meu almoço de hoje.
E vim pro teclado. Sou apaixonada por homens que não conheço pessoalmente e posso confessá-lo.  O Ferreira Gullar e o Clint Eastwood, e o desenhista Amador Perez, com quem sonho ter aulas de desenho ainda. Homens têm seu encanto. Homem não sabe, mas quando são refinados e talentosos, têm um charme... Ou quando são puros eles têm tal charme e acho que não sabem disso, neles.
Talvez reconheçam em outros.
         Sinto que estou falando é confidencialmente com você leitor. E li de um escritor, que o livro é feito pelo autor e pelo leitor, ou seja, são cooautores. Já pensou nisto? Não é formidável?
         Às avessas do que ia escrever hoje, deixa pra outra vez.
Vou agora, é apreciar este almoço de lingüiça assada ao forno, que ela vem sequinha sem gordura, uma couve fininha e macia sem perder o verde, arroz perfeito, feijão e uma farofinha, e um copo de suco natural de laranja, sem gelo,
         Muito bom...
EASTWOOD... Estava atendendo a minha filha ao telefone e aproveitei e perguntei como se escreve o nome do ator, Entendo um pouco em inglês, mas não sei nada da língua e ela, muito inteligente, começou a soletrar pra mim, segurando a impaciência: E A S T... Interrompi: ”feito este”?Ela: é. E madeira, WOOD.
Ai Deus, como é bom ter filha inteligente, como ela. Claro, se o inglês fosse ensinado assim, qualquer aluno aprenderia! Oh, minha filha, como vc é inteligente! Como é bom se dar bem com uma filha! Oh, Deus!
         Como aconteceu comigo há alguns meses atrás, fui numa loja que estava vendendo a preço de banana, meadas de seis fios, que qualquer bordadeira sabe o que é. Comprei um monte de caixinhas, que abri sobre uma mesa, meio misturando, e perguntei pra vendedora, dona da loja, quais as meadas que não estavam combinando com aquele monte de linhas coloridas, ela foi recolhendo as meadas que destoavam e olhou pra mim, querendo uma explicação. Perguntei se ela bordava. Não, disse ela, de linha e bordado não entendo nada, só de vender.      E retruquei: pois acabei de dar uma aula gratuita de CORES para você. Por que você sentiu, na sua percepção saudável de equilíbrio, o que tinha a ver com o quê. Na verdade, você selecionou o que tinha sentido de equilíbrio e harmonia de tonalidades, por puro sentimento de harmonia inteligente. “E, depois “destas palavras, ela se admirou:” é mesmo”! Pois separe e embrulhe o monte bonito que vou levar. Ela arredondou o preço para baixo e sai,
As duas alegres com o dia,