Não dê esmola!

- Moço, me dá uma esmola aí, pelo amor de Deus!

- Não Dou não! Olha lá o cartaz!... Está dizendo: “Não dê esmola!”.

- Como é que vou alimentar os meus filhos?

- Vá trabalhar! Faça como todo mundo.

- Sou doente, miserável. Isso me impede.

- Mas o cartaz diz, que, dar esmola é alimentar o crime.

- Moço, quem diz isso, não conhece a miséria de verdade. “Quem dá aos pobres, empresta a Deus!” O senhor nunca ouviu falar nisso?!

- Já! Mas, também já ouvi muitas histórias sobre os pedintes... Malandragens, aproveitadores da boa-fé dos outros, etc.

- Muita gente mente, sim! Disfarça... Usa crianças... Mas, eu não! Peço por necessidade mesmo. Meus filhos passam fome. O senhor não acha que por detrás desse cartaz tem muito interesse em jogo?

- Como assim? Que interesse? O cartaz diz: não dê esmola!

- Olha moço, tem muita gente graúda pedindo esmola, mas, de jeito diferente... Através de ONGs, Televisão, Igreja, etc. O senhor não acha que esse cartaz está legalizando o jeito de pedir esmola e tirando o pão da boca de quem está morrendo de fome mesmo?

- Sei não!... A senhora falando assim me deixa confuso. Nunca havia pensado nisso.

- Basta o senhor olhar para os lados e verá um monte de mendigo, crianças cheirando cola, gente velha abandonada, gente desesperada que perdeu a vontade de viver... Somos farrapos humanos. Somos como ferro velho imprestável. Moramos debaixo de viadutos, ao relento, em bancos de praças... A pobreza está escancarada nas ruas. Somos o cemitério dos mortos-vivos. O que se lê nesse cartaz é mentiroso, é um crime... Até dá esmola pra mendigo, querem proibir!

- Senhora, toma!... Vai matar a fome dos seus filhos.

- Obrigado, moço! Deus lhe pague!

Prof. Osmar Fernandes

Em 21/03/2009

Código do texto: T1497546