Delicada cumplicidade

No silencio das vinte e três horas nem a brisa ousou comparecer, a lua soberana ganhava alturas e o destino dos olhares. Foi no apagão de uma terça feira que a espuma de sombras enveredou-se nas ruas. Uma palmeira assombrava com sua cabeleira o banco vazio. Dos sofás nenhum ruído ou suspiro ouvia-se além das chamas de poucas velas em lágrimas quentes. Quente também era o hálito da noite em despedida do verão. Algodoadas nuvens rodeavam a mansidão criando halo colorido no luar de quase meados de março e abrilhando as paineiras da cor do mais pálido ruge. Dos quintais úmidos vapores erguiam-se como das entranhas do verso a compor. Crianças dormiram mais cedo, os aparelhos televisivos, computadores, ventiladores, ar condicionados e geladeiras estavam de férias coletivas deixando ao total abandono a população inconformada.

Foi a mais linda noite de luar que presenciei na cidade, se fosse uma criança acharia que meus mais profundos desejos de escuro haviam sido atendidos, mas como sou poeta sorrio e pisco pra lua, em delicada cumplicidade ...

* virgínia além mar - 11 de março 09

AVBL -http://www.avbl.com.br/website/?p=Yz04NTUmYT1TQg

virgínia vicamf
Enviado por virgínia vicamf em 13/03/2009
Reeditado em 31/05/2009
Código do texto: T1483901