Dia da Mulher, o Escambau!!


Recebi mensagens lindas neste Dia Internacional da Mulher. Pessoas queridas, outras nem conhecidas. Todas eficientes em sua missão de me parabenizar, de me deixar orgulhosa por minha condição feminina. Eu mesma repassei várias.
E é mesmo motivo para comemorar, não é? Somos guerreiras, fortes, inteligentes, batalhadoras, charmosas, sensuais, amorosas... Ser mulher é tudo de bom!!
O escambau!! Um passeio pelas estatísticas mostra que nossa situação está longe de ser motivo para festas: somos mais da metade da população brasileira (51%), 31% das quais, analfabetas. Por outro lado, somos proporcionalmente, mais estudadas: 60% de nós estudou 11 anos ou mais contra 52% dos filhos de Adão. Isto não é garantia de emprego ou renda: representamos ainda apenas 44,4% da força ativa de trabalho e ganhamos em média 45% menos que os homens. Das mulheres que trabalham, apenas 37,8% têm Carteira Assinada, contra 48,6% dos homens. Ainda assim, somos a principal, quando não a única, fonte de renda de 47% dos lares brasileiros. 90% das mulheres que trabalham fora, despendem cerca de 4,4 horas diárias nos afazeres domésticos. Não pense que o problema se restringe às classes C e D. Dentre os profissionais com curso superior, a situação não é muito melhor: chegamos a receber 60% do salário deles e nos 300 maiores grupos privados do Brasil, os cargos executivos são ocupados pelas mulheres em apenas 3,5% dos casos.
Também não vamos muito bem de saúde: de acordo com dados da OMS, 32% dos partos no Brasil é feito por cesariana. A AIDS é a primeira causa de morte em mulheres jovens (entre 20 e 35 anos) e 97% das mulheres admitem não usar preservativos em todas as relações, mesmo sabendo que os companheiros mantêm relações extra-conjugais. A falta de informação coloca o Brasil no 4º lugar no número de mães solteiras e 158 abortos clandestinos foram feitos por hora no Brasil em 1994, segundo a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Americano Alan Guttmacher.
Falar de violência? Dois anos depois da promulgação da Lei Maria da Penha, 11% das brasileiras com mais de 15 anos já sofreram espancamento. O marido ou companheiro é responsável por 56% dos casos. Ao contrário do que se esperava, esses números são bem maiores do que os registrados à época da lei. Parte desse aumento, só parte, pode ser explicada porque, agora, as mulheres denunciam mais. O número de estupros em São Paulo no ano passado cresceu 4,1%, com relação a 2007 - foram 3.387 casos. REGISTRADOS. Lembre-se que isso corresponde a uma parcela pequena dos dados reais, pois muitas mulheres não dão queixa, por medo ou vergonha, por desconfiarem do poder público, por desconhecerem seus direitos.
Mais um detalhe, não que esta seja uma meta a atingir: os homens traem mais. Pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, afirma que, dentre os entrevistados assumidamente comprometidos, 25% das mulheres já pulou a cerca. É a metade da quantidade de homens que admite a mesma falta.
A própria escolha da data indica que, às mulheres, ainda cabe muito chão para atingir o mínimo de respeito e igualdade: o dia das Mulheres foi Instituído em memória às pobres operárias queimadas vivas dentro das instalações da fábrica onde faziam protesto por mais direitos, em 08 de março de 1857. Com uma herança macabra desta, a data merece luto... não comemoração.
Deviam ter lembrado de nós no dia 15 de agosto, dia da Ascenção de Nossa Senhora aos céus. Conduzida pelos anjos do Senhor, ela foi coroada Rainha Celestial. Isto, sim, um momento de glória, de júbilo, de vitória feminina. Ainda mais se considerarmos todo o machismo da época e da própria Igreja Católica. Mas, a principal razão para a escolha desse dia seria o fato de que tem que ser mesmo muito santa para agüentar o batidão de ser mulher nesse mundo ainda tão predominantemente masculino.