A LINHA AMARELA
 
 
         Quinta feira, meu filho lindo veio limpar o apartamento para mim. Como é bom nos vermos.
         Enquanto ele ficou aqui ocupado, fui ao banco pagar suas contas. Passei pela feira, que é defronte de casa, e já deixei encomendadas minhas compras.
         Dentro do banco, eu só queria mesmo pagar aquelas contas e regressar, mas a fila dos prioritários estava meio longa, mas paciência é o que se aprende na terceira idade. Enquanto esperava a minha vez entrei em comentários com os velhos e desabafei que sentia medo. Engraçado que velho não deixa a gente acabar de falar, ele tem logo algo pra falar também.
         De repente, lá perto da porta giratória, alguém diz:
                         NÃO ULTRAPASSE A LINHA AMARELA!                        
         Gelei e me antenei no fenômeno medo! Quê? Linha Amarela? Que terá acontecido mais? A Linha Amarela do Cesar Maia e da Cidade de Deus. É o que me veio à mente e ao reflexo emocional, totalmente ilógico, mas mais forte que a realidade e o bom senso.
         Em seguida ri de mim mesma e expliquei pros velhos como o medo inculcado na alma nos transforma nos diminui. Achei graça e absurdo.
         Rimos todos, mas depois eles entristeceram compreendendo, e cada um começou a contar seus casos já sofridos, seus receios, suas indignações e suas novas filosofias de vida. Um deles disse aprovar “o que o antigo Governador Lacerda fazia que enchia um ônibus de bandidos e jogava longe, num lugar afastado, no fundo dágua”.    Nada mais falei, queria ir embora.
         Triste isso.
         Não há autoridades adequadas para resolver a violência urbana.
         É triste. Mesmo.