O MEDO
 
 
         Enquanto esperava a funcionaria desbloquear o cartão, assisti à chegada do carro forte ao Banco, olhando cada detalhe. Parecia assistir a um filme, mas era real. Quatro grandes seguranças postaram-se nos quatro cantos do hall de entrada. Traziam coletes a prova de bala sobre o uniforme cinza azulado, botas, alguns detalhes de adereços escuros como o colete, cabeças cobertas por bonés (quepes?), e armas atadas ao corpo por correias. Assumiram suas posições e vigiavam a entrada do banco com extrema atenção e numa postura de pronta defesa ou ataque, com o braço direito meio dobrado acompanhando o cinto de sustentação da arma e a mão pousada firme sobre o revolver ainda atrelado ao seu suporte, mas ao alcance de ser acionado se preciso.
         Olhei aquilo e percebia a adrenalina correndo em seus corpos prontos para a ação. Que profissão estressante! Como pode estar o cérebro e o coração destes homens nesta atividade?
         Na parte interna com divisória de vidro e a porta giratória estavam mais dois seguranças comuns e já conhecidos do banco em postura atenta também.
         Do carro forte estacionado no meio fio, saíram mais dois guardas carregando sacolas escuras e vazias, abraçadas ao peito, que entraram rapidamente e foram direto ao fundo do banco. Houve um tempo de espera na mesma posição e atitudes.
         Comecei a pensar como é o cérebro do bandido que usa a arma direta na mão, apontada para a cabeça de uma jovem vitoriosa nas suas conquistas de se tornar um ser humano no seu ápice, de pé no asfalto de olhos baixados e mãos para o alto esperando o tiro, a morte ser feita. Que massa cefálica o bandido tem com outras funções que não são humanas? É uma área desconhecida, como funciona a massa cinzenta do assaltante que nada teme, que, ao contrário da arma ser de defesa é para a maldade, a destruição, para o aniquilamento de um ser humano indefeso, uma jovem exercendo seus direitos de viver com sua vida construída com cultura, empenho, suas conquistas materiais e profissionais e ainda mais, a sua cidadania e sua autoestima, tornada um ser superior, despojando-a de todos os seus bens e de sua liberdade e a alegria de viver, eliminando suas defesas saudáveis e de direito?
         Ela esperou o tiro da morte que não houve, mas que matou suas defesas saudáveis, criando nela o medo. Algo terrível, um grande mal.
         Eu que me orgulho de declarar que não tenho medo de nada, estou conhecendo agora este sentimento invasor e limitante.
         Lá do fundo do banco voltaram os homens abraçados em malas com conteúdo e foram direto para o carro. Os demais permaneceram na postura de prontidão até que entrassem todos. E um último que ficara junto ao carro forte, após seus colegas, entrou de costas e arma em punho e olhos atentos.
         A porta foi fechada por dentro. Partiram imediatamente.
         Sai do banco e, do outro lado da rua, o jornaleiro acenou amigo. Retribuí, mas não fui lá. Voltei direta para casa, perto.
         Entrei. Fechei bem a porta com a segunda tranca. Era cerca de quatorze horas. Liguei o ventilador direto sobre meu corpo. Deitei e apaguei, num sono longo e sem sonhos.
Despertei às dezenove horas com a roupa da rua molhada de suor.