O Monge João Maria
Quando criança ouvia muito falarem deste homem, considerado santo pelas pessoas do interior, que inclusive seguiam alguns preceitos por ele divulgados, sendo que os mais antigos contavam até de encontros que haviam tido com ele.
Conheci locais onde diziam ter João Maria estado e estes lugares com suas fontes de água eram visitados por pessoas em busca de cura para algum mal e segundo elas o seu desejo era realizado, para chás era utilizado um pequeno arbusto chamado de erva de São João Maria do qual se atribuíam poderes curativos.
Só depois de adulto tive curiosidade e oportunidade de conhecer a história deste monge considerado santo para a população simples de tempos atrás e para muitos ainda hoje.
Na verdade existiram três monges no passado com características semelhantes e com isso confundindo as pessoas de modo que muitos pensavam ser um só e por serem de épocas diferentes, embora com poucos anos entre a aparição de cada um deles, somando os anos, uma só pessoa teria uma idade avançadíssima e era isso que o povo acreditava e mesmo nos dias de hoje há gente que crê que ele vive nos morros de Taió SC com mais de duzentos anos e que ainda virá fazer suas pregações e julgamento dos bons e dos maus conforme seus procedimentos.
O primeiro monge, João Maria de Agostinho, italiano de nascimento, surgiu no ano de 1840 em plena revolução Farroupilha. Com sua barba longa e vestimentas rústicas, peregrino não permanecendo por muito tempo num mesmo lugar, era considerado profeta, pregador da palavra de Deus e curandeiro, para este fim utilizava rezas, ervas e água benta e para muitos realizava verdadeiros milagres. Com suas críticas a situação reinante na época revelava-se, embora veladamente, suas tendências em apoiar os revoltosos do sul.
Anastás Marcaf, de origem francesa, foi o segundo monge, confundindo-se com o primeiro usava o nome de João Maria de Jesus e embora agisse do mesmo modo que o outro era declaradamente simpático aos maragatos, na época em guerra com as forças governamentais. Em suas andanças declarava ter recebido em sonhos a missão de pregar os ensinamentos de Jesus, profetizava castigos de Deus, guerras, pragas e a fome que viria embora desse conselhos e remédios que aliviavam a vida do sofrido povo que o procurava.
Já o terceiro a surgir, embora assumindo o lugar dos anteriores, dizendo ser em algumas ocasiões a reencarnação do primeiro, em outras ser irmão do segundo, tratava-se de Miguel Lucena Boaventura ex-militar do Paraná expulso da corporação, sendo inclusive acusado de estupro aqui em Palmas, adotou o nome de José Maria de Agostinho e aproveitando-se da fama de seus antecessores e ainda da situação caótica vivida na época pelos caboclos nesta região contestada pelo Paraná e Santa Catarina e que tinham suas posses de terra sendo tomadas por grandes latifundiários e principalmente pela companhia norte americana Lumber, tornou-se a gota de água que faltava para a deflagração da Guerra do Contestado com saldo de muitas mortes e atrocidades praticadas por ambos os lados que dela participaram.
Este último, mais que santo foi um guerrilheiro que usando e abusando da ingenuidade dos pobres caboclos levou-os a uma guerra que certamente não poderia ter êxito contra as forças federais.
Em resumo, a passagem dos monges nestas terras de um modo geral foi benéfica devido ao apoio que prestaram aos habitantes isolados e esquecidos nos sertões de outrora.