O BEBÊ


 
         Um lugar da Lapa, numa loja de rações e artefatos para passarinhos, cães e gatos. Fui comprar mais uma garrafinha de água para os meus passarinhos. Comprei.
         Ao lado da caixa enquanto pagava, notei uma cama de bebê com tela alta. Iluminação precária ou os meus olhos sentem e percebem mais do que vêem, há coisas que faço mais até pelo tato que pela visão.
         Olho dentro da cama, pois ali não seria um lugar adequado para uma caminha e, lá no fundo um bebê, peladinho, só de fraldinha, com bracinhos e perninhas em movimento no ar. Uma carinha linda, perfeita e sorrindo. Perfeito.

                                            S o r r i n d o...

         Abstraí-me da loja, da compra em andamento, do tempo e do lugar: era eu e o bebê. Sorri também trocando sorriso e encantamento com aquela perfeição da vida. Lindo... lindo... falei alto pra ninguém “mas que coisa linda, maravilhosa, um bebê, que beleza,que perfeição, meu Deus, um bebê sorrindo e olhando pra mim! Meu Deus, perfeito! Um milagre da vida!

         Eu comigo, questionando “porque os filósofos, os religiosos, os homens estudiosos, enfim, porque ficam perguntando e se aprofundando por que o homem está na terra, de onde veio, para onde vai, o que é a vida, o que é a morte, qual a origem de tudo, e qual a finalidade de tudo?”

         Se basta apenas abismar-se e ver e ficar olhando um bebê...

Perguntei – de quem é? A caixa: é meu.
Menino ou menina? Ela com a voz macia, quase inaudível, com a profundidade das coisas telúricas: “é menina...”
 
         Saí para a rua sentindo e nada questionando, só tomando cuidado com as irregularidades da calçada da Rua da Lapa.