Presa fácil de emoções

PRESA FÁCIL DE EMOÇÕES

O desejo de ser livre sempre orientou os meus passos. Recordo-me que desprezava o convencional, jogando por terra os rígidos preceitos da família tradicional.

Bem cedo, dediquei-me, de corpo e alma, àquela decantada Boemia tão em moda nos tempos de minha infância. E assim, presa fácil de emoções, rendi-me à imaginação, acompanhando os velhos e queridos boêmios do meu bairro, o meu saudoso e querido bairro . . .

Muito cedo ingressei no mundo maravilhoso do romantismo, forjando versos, falseando rimas com destemor e entusiasmo. De certo modo, foi essa precocidade que me levou a buscar a natureza, a pesquisar o âmago das coisas, sem sequer entende-las, sempre direcionando meus passos nos caminhos da ilusão que tanto bem nos faz. Dediquei-me às mágoas dos seresteiros - daqueles pobres e autênticos - buscando transmitir em versos certas sensações nunca experimentadas realmente em minha curta existência.

Os cuidados paternos, soube condicioná-los nesse aprendizado que me faltava. Criança - embora criança adulta - forçada por precose amadurecimento, soube controlar meus anseios, buscando nas coisas mais simples a palavra de Deus. Alheio aos problemas materiais, que cumulavam de preocupações os meus tímidos e queridos pais, tornei-me um boêmio infante, um músico, um poeta louco, desprezando aquele menino cuja maior aventura sempre fora perder-se em longas caminhadas pelas praias da maravilhosa cidade, sondando o desconhecido, como se a buscar na imensidão do mar a razão de sua própria existência.

João Bosco Costa Marques.