O LAPIS E O PAPEL
 
 
         Estou começando me ligar ao prazer do papel e lápis na mão.
         As três gatinhas estão deitadas e enroladas umas nas outras ao pé da cama. O amor é mútuo entre nós. Tenho por elas e meus dois cães todo o amor possível, eles querem até dormir dentro de casa e deixo, enquanto aqui estou, para dar lugar a este carinho da presença, e da realidade ficar não confundidas com distância.
         Não estou feliz de estar aqui, neste momento. Mesmo com a presença enternecedora da Neném e suas filhas juntinhas a mim.
         Mesmo sendo esta casa minha. Não estou sabendo analisar minha mente e eu mesma. Não sinto conforto. Estou como que exilada e forçada a sair do Rio pelo calor e pelo acordo dos filhos.
         Antes que eu pense naquele verdejante mato do lado da represa, que é a única imagem vagando em minha visão interior, mata que está ali de pé e vicejante, proporcionando ar fresco a todos, eu preciso confessar que, antes da mata e outras coisas boas, o que está forte em mim é estar exilada de mim à força.
Eu nem queria vir. Só o calor do Rio me forçou. Lá, pensei em ar condicionado para o meu quarto.
         Agora aqui, próxima desta luxuriante mata que preservei e cuidei por mais de quarenta anos, sentindo o seu frescor e admirando os muitos pássaros e vidas que nela se multiplicam, eu sei concluir e me entender. Tudo isto aqui é muito para mim.
Eu não quero a multiplicidade e a diversidade das coisas.
O muito me separa do objetivo conquistado. Eu percebi que estava fora do alcance de eu mesma; eu estava afastando de mim mesma só porque o calor estava fazendo mal. E eu? Não sou eu que tenho que ir atrás do clima ideal, ou da solução ideal, Eu já não posso me separar do que me constitui. Que volta preciso dar para entender que as soluções estão ao alcance da mão! Detesto celular, e soluções right tecs. Mas tenho sido assim, tudo muito ao natural...
         Mas preciso de todo este trabalho, criando impensadamente situações insólitas de incomunicabilidade, sem o querer é claro, mas um caminho que me força ver o óbvio.
 Prefiro um ar condicionado e voltar pro meu canto, aos meus papeis, lápis e canetas. Ou seja, a mim mesma que é o lugar das inspirações.