Um Dia Cheio

Nossa, como estou cansada! Sentei-me, respirei e lembrei que já há um bom tempo não postava nada na minha escrivaninha. Os últimos dias têm sido realmente corridos. Fechamento de pendências do ano que acabou, preparação para o ano em curso, e os imprevistos! Ah, os imprevistos... O que seria de nós sem eles?

Li em algum lugar que a necessidade é a mãe da invenção. Não sei quem cunhou esta frase, mas o que importa é que ela é mesmo a pura verdade! Se os imprevistos não nos colocassem em apuros, não superaríamos nossa preguiça de pensar e encontrar uma solução rápida para um problema, e muitas vezes perfeita! Hoje mesmo me surpreendi comigo mesma ao tirar do chapéu uma solução mágica, super simples aliás, para um problema que me ocorreu de imprevisto. Fiquei me perguntando como não havia pensado naquilo antes... Falta de necessidade? Pura preguiça de pensar? Que seja!

E por falar em preguiça, aqui na Alemanha se usa uma alegoria muito engraçada para representar esse estado de espírito, a figura de um porco selvagem (ou seria porco-do-mato? Sei lá!) agarrado no pé da pessoa, prendendo-a, impedindo-a de andar. "Ah, eu queria muito hoje ter saído pra caminhar, mas o porco do mato (Wildschwein) foi mais forte e não deixou." Interessante as desculpas que damos a nós mesmos quando não queremos realmente fazer algo.

Um professor da Carnegie Mellon University, Randy Pausch, recentemente falecido, disse uma coisa muito interessante em uma apresentação que ficou conhecida na internet como sua última aula (Last Lecture). Há vários vídeos sobre ele no YouTube, a maioria em Inglês. Bem, o que ele falou nesse vídeo, e que eu não esqueci, foi o seguinte: "Barreiras estão lá para nos lembrar o quão realmente queremos algo" - traduzido livremente do que entendi assistindo o vídeo – e meu Inglês não está lá grande coisa...

Bom, penso que ele tem razão. Quando queremos realmente uma coisa "não há obstáculo alto ou vale profundo o suficiente" (5) para nos impedir de alcançá-la. Porém, quando não queremos mesmo algo, de coração, aí a coisa é diferente...

Há casos de passarmos a vida empurrando com a barriga coisas que nunca quisemos de verdade. Por exemplo: o sujeito descobre lá pelos 30 anos que investiu anos na profissão errada, mas se acovarda diante de uma mudança tão radical, e tão tarde. Vai ver nem pode jogar tudo pro alto, principalmente se muita coisa estiver em jogo. Aí se sacrifica e segue dando murro em ponta de faca, mentindo para si mesmo, dizendo que agora não dá mais para voltar atrás, que segurança financeira é mais importante do que fazer aquilo de que se gosta de verdade e trá-lá-lá...

Imagine que um dia algo aconteça e vire a vida do cabôco de cabeça pra baixo, tipo uma doença terminal, falência financeira, a casa que caiu e matou a família inteira etc. E agora? Muda tudo? Por que às vezes ficamos esperando que algo aconteça para promovermos uma mudança radical em nossas vidas? Talvez porque seja cômodo ou porque aí a decisão não partiu realmente de nós, não foi nossa culpa?

Ah, tá! Eu sei que a vida é cheia de compromissos... Também não estou aqui para analisar nada. A única coisa que eu queria com este texto era relaxar, relaxar... matar as saudades de escrever... pensar nas tantas tarefas que realizei hoje e no sentimento de ter chegado ao fim do dia com uma sensação de dever cumprido. "Pronto! Agora até posso fazer algo pouco produtivo, idiota, tipo assistir TV. Ah, no canal X tá passando um Big Brother, em algum lugar do mundo. Ah, tanta idiotice 'Eu não agüento, não agüento. É de noite, e de dia...' (1) nem meio segundo! Logo pinta um documentário interessante, que prende minha atenção, então é adeus à idéia de ficar fazendo algo estúpido, bobo."

Sim, é verdade que não tenho tido muito tempo livre ultimamente, mas de vez quando, pra distrair um pouquinho, entro aqui e leio os textos publicados no dia. Foi assim que li o pedido de sugestões de boas leituras para 2009, postado pelo colega Davi Cartes Alves (4). Eu sugiro a leitura de biografias. Incrível o quanto podemos aprender com as experiências dos outros.

Um exemplo? Acabo de ler um livro inspirador (2) contando a vida da pintora mexicana Frida Kahlo. Eu já havia visto o filme com Salma Hayec, muito bom aliás. Mesmo assim em nada a leitura perdeu seu fascínio. Outra excelente dica, principalmente para quem escreve, é a autobiografia de Gabriel Garcia Márquez, Vivir para contar-la. Aqui um dos trechos que me deixaram um tempão vendo estrelas, boquiaberta...

"Cuando el funcionario del banco, con la cadencia viciosa de los andinos, se excusó de no haber sabido a tiempo que el mendigo que cobró el cheque era el autor de La Jirafa."(3).

Quando tiver oportunidade gostaria de ler também sobre Portinari, José Saramago e outros tantos que parecem me dizer: "Tira esse traseiro gordo do sofá, amarra o porco-do-mato ao pé da mesa e vai à luta!"

***

Pra você que me leu agora, tudo de bão em 2009, vice?! Acho que escritor deve dizer pra outro coisa do tipo: "Muita inspiração, quebre a caneta (ou o teclado)!!" Vou passar um tempinho sem postar. Volto, se Deus permitir, depois do Carnaval. Ah, quando tiver mais tempo retribuo as visitas carinhosas que tenho recebido desde que estou aqui nesse cantinho do céu. :-)

Um abraço fraterno.

Referências:

(1) Trecho da canção Eu Não Agüento, Titãs.

(2) Andrea Kettenmann; Frida Kahlo 1907 – 1954 Leid und Leidenschaft. Taschen Verlag.

(3) Trecho extraído da página 460, Editora Debolsilho, ISBN-10: 8497598733

(4) http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/1353507

(5) Trecho inspirado na Bíblia e na letra de Aint No Mountain High Enough (Nickolas Ashford & Valerie Simpson) interpretada por Marvin Gaye and Tammi Terrel; http://en.wikipedia.org/wiki/Ain't_No_Mountain_High_Enough

Errata:

Devia estar tão cansada quando escrevi este texto que cometi um pequeno erro. Quanto à alegoria usada por aqui para representar a preguiça, procrastinação (viver adiando coisas), não se trata simplesmente de um porco-do-mato (Wildschwein) como havia dito. Wildschweine relaciona-se às histórias de Asterix e Obelix (que eu adoro, diga-se de passagem!). Trata-se de uma mistura de porco-do-mato com cachorro, um animal que mora dentro de cada um de nós, o assim chamado Innerer Schweinehund. Bom, é isso aí. Lembrei disso bem depois e agora voltei pra corrigir. Brigadão!