UMA BOA LEITURA

Recentemente, eu reli "Os Irmãos Karamazov". Um livro difícil, considerado por Freud, a maior obra de todos os tempos.Há cerca de 15 anos que faço essa tarefa " complicada" .Mas com muito esforço, muita dedicação, aos poucos, fui penetrando naquele universo e compreendendo o perfil psicológico de cada personagem.

Mesmo, após alguns anos de leitura, esse romance ainda me causa surpresa. Sempre me deparo com algo novo,que me desafia a pensar mais, analisar e investigar mais , o que esta obra representa para o pensamento ocidental.Dostoievski conseguiu criar algo capaz de instigar o ser humano a uma procura constante pelo que é verdadeiro ou não, em sua natureza, em sua alma.O bem existe? Para Dostoievski, sim; como o mal, também existe. E isso serve tanto para Ivan, que, no momento de delírio, dialoga com o diabo, e este promete dar-lhe mais originalidade que um enredo de Tolstoi, quanto para o velho Fiodor, com sua vida boêmia e sua devassidão, ambos são perseguidos pelas suas culpas, pelas suas consciências.

Porém, em meio a tantas coisas tristes, aparecem personagens tão interressantes, como Zóssima, Aliosha. Zóssima diz que os homens foram criados para a felicidade, e Aliosha, em um velório, proferiu as seguintes palavras: "não temais a vida ! Ela é tão bela quando se pratica o bem e a verdade"! Fico sempre tentando trazer esse personagem (Aliosha) para minha realidade diária. Como seria oportuno para qualquer ser humano incorporar tamanha grandeza moral.O que me deixa frustrado é reconhecer como estar distante de nós essa possibilidade. Pois, o mundo atual não é diferente daquele - " Os Irmãos Karamazov". As mesmas mazelas, que fizeram a tragédia daquela família, estão a nossa frente, às vezes fazendo parte das nossas vidas.Aqueles personagens são tão humanos que parecem não ter saído de uma obra ficcional.

Tenho consciência de como o dia-a-dia apresenta tanta dificuldade, em sobreviver, ao ponto, de não nos preocuparmos com a nossa dignidade; aí eu faço uma comparação- realidade x ficção- e chego a conclusão, é difícil a existência humana.Dostoievski elabarou um romance ( conclui-se) baseados em suas angústias, nos seus problemas pessoais: a epilepsia, a morte do filho, o exílio na Sibéria, dificuldades financeiras. Tudo isso deixou marcas profundas em sua alma.Mas também há o Dostoievski, religioso, cristão; e esse lado esperançoso, otimista, como pudemos perceber, aparece em cada personagem , até naqueles mais obscuros.

Dostoievski, com muita competência, dá o seu depoimento;sim, um depoimento, porque, uma obra como esta, tem por objetivo colocar para o mundo todas as amarguras que possam existir em uma mente esclarecida.Aliás, em uma de suas frases memoráveis, ele, diz: "escrever é exorcizar fantasmas". E foi o que ele tentou fazer, livrar-se de todas as correntes que prendiam sua personalidade atormentada. Esse depoimento pode nos servir como um conselho - dado por alguém que conheceu profundamente a natureza dos homens, a sermos mais comprenesivos com os nossos semelhantes, e também para com nós mesmos.

Foi o que ficou em mim, após esses anos todos dessa " boa leitura" que a princípio, pode não ser prazerosa, pelo seu complexo conteúdo, mas de uma importância imensurável para lidarmos com as nossas fraquezas, e evidentemente, procurarmos melhorar nossa condição de criaturas humanas. Os Irmãos Karamazov é um livro indispensável a quem sente a responsabilidade de pensar a vida, de refletir sobre a nossa passagem por este conturbado e fascinante planeta, que o chamamos terra.

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 17/12/2008
Reeditado em 16/02/2011
Código do texto: T1340009