A Fonte

Esses dias me perguntaram de onde é que eu tiro a inspiração para escrever tanta coisa. Respondo, meu caro leitor, que o lugar de onde eu bebo desse vinho dos deuses está tão próximo, que você nem imagina. Para alguns bastam algumas quadras. A principal fonte de informações, onde todas as notícias correm como e-mail, é sem sombra de dúvidas, o ônibus. Um prato cheio para cronistas. Cada dia uma aventura nova, uma história cheia de fantasias e temperos, bem ao estilo do povo brasileiro. Verdade ou mentira? Quem somos nós para duvidar, a única coisa a fazer é ouvi-las.

Sempre utilizo o transporte público para locomover-me, portanto aproveito para guardar as histórias dos passageiros, no lugar de ficar reclamando. Encontrar bancos vazios em pleno horário de pico é quase a mesma coisa que encontrar uma nota de cem reais dando sopa. Quem acha vai com aquela intenção de que não quer nada com nada e de repente PIMBA! Mas sempre desconfie de bancos vazios, podem ser bancos tingidos com vômitos.

Subir, pegar, andar no ônibus, isso depende de cada região. Agora, o que se passa lá dentro é igual em qualquer lugar.

É ali onde inicio a degustação, mas é dentro da Fonte que eu me embebedo. O que para uns é motivo de estresse para mim é uma terapia, momento de relax. E o bom de tudo isso é que com apenas um real e noventa centavos (não sei até quando) aproveito cada gota desse vinho. O engraçado é que sou eu que bebo e os passageiros que ficam embriagados, porque é cada coisa que saem nesses ônibus. E quanto maior ele for melhor. Apesar de que tamanho não é documento se tratando de quantidade de passageiros, porque é impressionante o quanto cabe nos ônibus. Igual coração de mãe, sempre tem espaço para mais um. Ai vira uma salada de braço, perna, cabeça, que ninguém sabe de quem é o quê. Isso quando não vão para fora da porta. O bom que quando é a cabeça que fica pra fora o individuo já aproveita toma um ar fresco, porque dentro da Fonte o cheiro não é tão bom assim, ainda mais lá pelas cinco horas da tarde. É nessas horas que as pessoas ficam bêbadas só com o odor. O que explica por que sai tanta coisa da Fonte. Agora me deixe ir porque vêm vindo uma das grandes, duas sanfonas (é hoje que alguém vai ter que me levar para casa).

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 16/12/2008
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