QUANDO A MORTE ASSOMBRA...

Deve ter sido por conta de um sonho que tive a noite passada, não me lembro sobre o que foi, mas acordei assim com medo... Medo de morrer! Ou será por que fiquei pensando que há dois anos, meu filho aos sete anos de idade, hoje com nove, numa manhã em que eu estava extremamente feliz nas primeiras horas do dia, fazendo o desjejum, olhou para mim e disparou:

- Mãe... Você vai morrer com quarenta e cinco anos!

Atônita, sem compreender aquelas palavras, percebo a cara de espanto e pavor dele que completa:

- Não, eu não quis dizer isso!

Só piorou a situação. Aí arrepiei! Será que ele tem a mesma capacidade de “premonição” que eu tinha quando criança? Em um dos contos de terror que escrevi “As pisadas do demônio”, a parte da menina Dora, aconteceu mesmo comigo. Cansei de prever coisas, de ver e sentir. Por isso quando meu filho falou que morreria aos quarenta e cinco, fiquei impressionada.

Bem, estou com quarenta e três, dezoito de janeiro farei aniversário... Está tudo bem comigo: colesterol, glicose, ácido úrico, hormônios, pressão arterial doze por oito... Mas há acidentes e imprevistos, não?

Das duas, uma: ou entro em pânico e fico vendo a Banda do Chico Buarque passar ou vou atrás da Banda para acompanhar a alegria. Vou atrás. Morrer como peru que não vou... Não vou morrer de véspera!

Por que a morte me assombra tanto? Porque tenho muito ainda o que ver e o que viver, porque quero ver meus filhos crescidos e encaminhados na vida, porque quero conhecer meu genro e minha nora, quero conhecer meus netos e poder contar-lhes as historinhas que criei e embalá-los com cantigas de ninar, porque quero tentar fazer do mundo um lugar melhor ajudando a quem precisa, porque quero plantar mais árvores e lançar “seeds Ball” para que lugares desérticos possam florir...

Não me comoverei nem sentirei autopiedade. Serei resoluta e atravessarei esse período como uma guerreira imbatível. Posso cair, mas levantarei. Posso chorar, mas o sorriso secará minhas lágrimas. Posso temer, mas a coragem há de vencer!

Creio que outras pessoas também se assustam com a sombra da morte, mesmo que elas não tenham ouvido alguém dizer que iriam morrer numa data pré-determinada...

Lembre-se, então, se eu não estiver entre vós, daqui a dois anos, é porque a previsão deu certo...

De uma coisa estou convicta: Não vou morrer de véspera! Como canta Mílton Nascimento:

“Vou seguindo pela vida me esquecendo de você*... Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver...”

* Previsão quase acertada em 12 janeiro de 2011...