EU PODERIA TER SIDO UMA ATLETA...

 

Se eu tivesse nascido em um grande centro ou, quem sabe, encontrado em meu caminho algum técnico eu não seria uma premiada atleta nordestina? Talvez já tivesse dado entrevista nos canais de esporte, contado minha vida para algum repórter, não é querendo fazer charme, mas entrevista só para Bial.

Tenho mania de correr. Desde sempre. Quando criança apostava corrida contra os meninos (tinha que ser contra eles, porque correr era coisa de menino) e ganhava de todos. Corri contra meu irmão e foi a vitória mais gostosa. Ele, a cavalo; e eu, correndo. Venci. Papai reclamou, o cavalo poderia ter me machucado.

Também gostava de pular. Salto com varas. Com obstáculos.  Altura. Era sempre a primeira. Mamãe reclamava. Não era brincadeira para meninas, mas eu não ligava, arrumava a casa das bonecas e ia correr e pular e andar a cavalo (pelo tamanho mini poderia ter sido uma amazona). Também adorava nadar e, junto com meu irmão, atravessávamos o açude da fazenda. E voltávamos correndo para casa.

Minha avó reclamava. Dizia para mamãe ter cuidado, não era normal “essa nega” viver solta feito uma cabrita no meio dos meninos. Confesso que, naquela época, nem me passava pela cabeça o que ela temia. Queria era brincar, viver, ser feliz!

Mas das manias restou só a de correr. Já não nado, nem ando saltando por ai e nunca mais andei a cavalo. Correr ainda corro. É algo que não consegui, ainda, controlar. É instintivo. Engraçado que só me dei conta disso recentemente.

Outro dia estava indo de um bloco para outro lá na universidade e, claro, ia correndo. Nessa corrida cruzei com um professor, que admirado, perguntou o motivo da carreira. Nenhum, respondi, gosto de correr. Ele riu e foi embora, andando.

E vez por outra me pego correndo. Mas lembro que devo parecer normal e volto a andar. Afinal sou uma senhora. Senhoras não andam correndo por ai. Mas, sexta-feira estava no centro da cidade e caminhava para o ponto do ônibus e, quando estava quase chegando lá, vi que o ônibus de meu bairro estava saindo, nem pensei, corri para não perder minha condução, e nem era o trem das 11.

Só me toquei da situação esdrúxula porque vi muitos olhos voltados para mim. Definitivamente correr parece não ser normal, mesmo quando todos ficam alardeando por ai que vivem correndo. E eu, que literalmente corro, é que não sou normal.

O interessante é que sou preguiçosa, nem coragem de fazer caminhadas eu tenho, mas uma carreirinha aqui e acolá... Preciso me policiar, vai que decidam que não sou normal e resolvam me tirar de circulação! Neste caso vou precisar correr muito para fugir e já não tenho o mesmo fôlego de muitos anos atrás. 

Vou correndo salvar este texto, melhor não correr, enquanto decido se posto ou não.




* Flagrante de uma corridinha para abrir o portão...

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 19/11/2008
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