A ILUSÃO VITAL

 

          Jean Baudrillard, pensador, escritor, só fiquei sabendo dele no dia seguinte de sua morte, aos 72 anos e vi sua foto e o jornal dizia um pouco dele que me encantou. Que pena, não soube desse homem que já escrevia e era importante já nos anos sessenta! Morreu em junho de 2006. Fiz seu luto, penalizada que não vamos nunca bater um papo, e era tudo de bom que eu queria e quero. Fiquei então atrás de seus livros. Li o primeiro de três livros seus; estou mais encantada com ele, pois pensamos parecido, só que ele não fazia mais fé no mundo. 

Eu faço fé no dia de hoje e no dia de amanhã, por isso vivo melhor.

         Lembrei dele, Baudrillard, porque li uma entrevista feita por Léssica Costa com o escritor Elenilson Nascimento, sobre a identidade nacional na literatura brasileira aqui no Recanto das Letras, e senti um desconforto, um descompasso pelas razões dele, que infelizmente é tudo assim mesmo, mas é muito cáustica sua leitura.  É muita coisa junta numa cabeça só.

          E Baudrillard adverte a gente de muita coisa. Fiquei totalmente tocada e envolvida com suas palavras. Cada frase sua é um livro. A Ilusão Vital, no seu 3º. e último capítulo é tudo, e abre um papo sem retorno, fantástico.

         Quanto mais o poder salvador cresce, maior é o perigo. Pois já não somos mais as vítimas de um excesso de destino perigo, de ilusão e morte. Somos vítimas de uma falta de destino, de uma falta de ilusão e, conseqüentemente, de um excesso de realidade, segurança e eficiência.  O que nos ameaça é o excesso de proteção e positividade – a salvação – incondicional desempenhada pelas nossas tecnologias. Artimanhas más também; é difícil.

         Baudrillard é genial porque PENSA, é um pensador. Mas é desencantado ao final, ou sempre.  Eu penso muito parecido com ele, e pensava que era só eu, mas infelizmente muita gente; entristeço-me muito e inexoravelmente como o que vejo e observo ir acontecendo como um conto de fadas invertido no Brasil, nas outras partes do mundo, na humanidade, e quanto mais penso e mais velha fico eu mais encantada com a vida vou ficando, exatamente porque os Outros estão estragando a vida, e eu a estou permanentemente vendo mais fundo e mais encantador, o que me dá alegria cada dia de viver.

          Talvez o Pensador se sinta responsável de dar uma solução à humanidade como se fosse um deus que ele não acredita existir – é puxar muito para os seus ombros e perde o dia só pensando.

         É importante sentir primeiro, dar-se este luxo. Depois pensar com inteligência e coração também, e também com confiança na vida.

Eu acho que por mais tecnologia avançada que seja a atitude dos cientistas e tecnológicos pensamentos seus, e as autoridades metidas a ser alguma coisa, eu não os boto em um pedestal. Tudo é mais simples. A gente tem que ter um raciocínio e sentir, enquanto se faz as continhas e contonas em maquininha de calcular higttek, um pensamento de ordem de grandeza, tanto matemático, quanto em todos os outros sentidos, não se pode perder este pé no chão. E este pé-no-chão é acompanhado permanentemente de confiança e encanto pelo mistério da vida, de tudo que chegou até os nossos dias, tanto errado quanto certo, pois cada qual deu sua contribuição e dá ainda como referência. E também não dar muita bola pelo que as nações e pseudo-autoridades mundiais, e as nacionais vão fazendo de inútil e horrível e distorcendo tudo de valor por aí. Essa gente e coisa que representam um poder nacional e internacional se mete na vida e no mistério, no sonho e na poesia como se fosse um menino se descobrindo que acha que sabe, mas vai levar muito tempo até descobrir que cada vez sabe menos ainda. – ISSO - a gente tem que tratar de cima pra baixo. Um pensador como Baudrillard não pode morrer não acreditando na ILUSÃO, no MISTÉRIO, no SONHO.

         Oh, Jean Baudrillard, eu teria te dito _ Deus não morreu. Ele só é Mistério!

         E, como diz Ferreira Gullar, “A VIDA A GENTE INVENTA. E TER ESPERANÇA.”

 

MLUIZA MARTINS