QUANDO O DIA QUER SER NOITE...

 

Hoje amanheci como uma noite escura. Um céu cinzento com nuvens desenhadas em minha face taciturna, moldurando as gotas de chuvas que escorrem de suas janelas. Acordei e não vi o sol (apesar de saber que ele estava lá). Olhei o céu e não vi estrelas. Nem lua. Não havia luz. Minhas lentes estão opacas.

Meus olhos se transformam em janelas por onde a luz não consegue passar, e meus lábios aprisionam a música que morre em meu olhar, adormecidos para a beleza. Meu corpo, como uma estátua sem vida, parece vestir-se de nada, e preguiçoso não queria levantar-se.

Fiquei indecisa se continuava assim ou simplesmente abria as janelas de minha alma e deixava o sol entrar e clarear meu coração, aquecendo o dia que quer nascer. Resolvi desenhar um arco-íris com meus sonhos e encher meu peito de alegria.

Estava na hora de levantar e transformar as densas e escuras nuvens em flocos de algodão e nelas passear com pés de bailarina. Soltar pipas no ar, voar na cauda de uma estrela brilhante. Soltar os trovões aprisionados no peito e deixar que os relâmpagos de meus insights clareassem meu dia.

Lembrei que não importa qual seja o motivo das nuvens, elas sempre serão sopradas por um vento suave – ou até mesmo por um temporal – porém, o importante é saber que em certos momentos devemos nos abrigar e, em outros, quando podemos sair, devemos brincar de viver.

Posso ficar em silêncio ou me deixar envolver pela melodia trazida pelo vento; ficar estática ou dançar ao ritmo da brisa que entra pela janela. Ficar séria ou sorrir de minha silhueta desenhada nas sombras das cortinas que bailam ao sabor do vento.

Posso ficar solitária ou sair para viver um amor de domingo. Sim, os amores de domingo são ternos, cúmplices, passeiam de mãos dadas pelos parques, rolam na grama, se derramam nas poltronas dos cinemas, comem pipoca na praça, é porto seguro depois da ventania, sorriem de bobagens e passeiam nas nuvens guiadas pelos sonhos.

Se o dia quer se fazer noite escura preciso abrir escancaradamente a porta da madrugada para deixar o dia entrar. É preciso fazer barulho para mandar a noite ir descansar e ceder seu lugar ao dia, que deve ter tido insônia e está com preguiça de acordar.

E se o sol não sair da cama para me saudar, e se as nuvens escuras continuarem no céu, não vou me penitenciar: vou abrir a janela e deixar as gotas de chuva banhar o meu rosto, sair para o quintal e brincar com as poças d’água. Deixe chover, o sol vai voltar. Ele sempre volta! As nuvens estão passando... Já vejo o sol através de seus olhos!

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 29/10/2008
Reeditado em 29/10/2008
Código do texto: T1254402
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