CONFISSÕES: SEM PENITÊNCIAS

 

Sentindo-me quase preparada, resolvi aceitar o convite/desafio de Maria Olímpia para responder ao questionário de Proust. Depois de ler e reler suas perguntas percebi que vivemos todos os dias com estas questões ao nosso redor, mas não paramos para pensar em nossas respostas e, descobri ainda, que não é fácil colocar em palavras tudo que pensamos sobre coisas que revelam muito sobre nós mesmas e diz desse ser que “estamos”.

Minha idéia de felicidade completa passa pela coragem para vencer as dificuldades e humor para enfrentar as adversidades. Acredito que quando encontramos esse caminho já estamos de mãos dadas com a felicidade.

Nunca havia pensado em uma figura histórica com a qual eu me identificasse, mas parando para pensar sobre o assunto vejo em Sócrates, todas as qualidades que eu gostaria de ter e me identifico com sua humildade em considerar-se um aprendiz.

A pessoa que mais admiro é meu esposo, pela capacidade de vencer desafios, por sua aguçada inteligência, seu coração generoso e companheirismo. Ele é uma pessoa que acredita e luta pelos seus sonhos. No geral admiro pessoas inteligentes e íntegras.

Minhas características mais marcantes são o otimismo, a boa fé e a humildade. Creio que o sorriso é o traço mais forte de minha personalidade e, paradoxalmente, sou uma pessoa que chora fácil. Sou assim, sorriso que escorre em lágrimas e lágrimas que explodem em sorriso.

Minha característica mais deplorável? Sem dúvida a ignorância. Não perco a paciência com facilidade, mas se perco é melhor sair de perto. Quando explodo queimo mais que vulcão em erupção e faço grandes estragos. Como diz uma amiga “sou uma lady que sabe armar um belo barraco.” Ah! Sou preguiçosa, faço apenas o que não posso deixar de fazer de jeito nenhum. Nos outros o que mais deploro é a hipocrisia. Tenho dificuldade em lidar com gente dissimulada.

Minha maior extravagância, sem dúvidas, é comprar bolsas e sapatos, tenho muito mais que preciso, também adoro comprar livros, mas não consigo imaginar isso como extravagância, pois já fiz a “proeza” de gastar todo salário de um mês em uma livraria (bem, está certo que na época eu era professora, portanto, não foi tanto dinheiro assim).

Minha viagem predileta é qualquer uma que eu faça. Adoro viajar, pode ser para qualquer lugar, em qualquer estação, de qualquer jeito. Adorei todas que fiz nas férias com minha família, mas tenho impressão que “a viagem” será a que farei à Grécia.

Lamento muito não ter feito uma determinada pessoa engolir cada palavra de ofensa quando fui acusada de algo que não havia feito. Chorei, sofri e me calei. Mas o tempo fez isso por mim e pude assistir de longe ela engolindo em seco todo seu veneno. Não fiquei feliz, mas confesso que gostei.

O maior amor de minha vida é a própria vida e o que estou vivendo. Ele me faz plena. Por ele eu quero ser e fazer sempre o melhor. Nele encontro forças para ser eu mesma, sem medo, sem máscaras. Este amor é extensivo aos filhos, os nascidos de mim e os que vieram depois.

Onde e quando fui mais feliz? Agora. O momento presente é sempre o melhor, pois só nele estamos vivendo. Eu sempre acreditei que nasci para ser feliz e creio que isso torna tudo mais fácil, pois aprendi a enfrentar as dificuldades como momentos passageiros e a felicidade como algo intrínseco ao meu jeito de ser e viver.

Minha maior realização foi ser a qüinquagésima colocada em um concurso onde duas mil e quinhentas pessoas foram aprovadas e assumir meu cargo de professora. Nunca meu nome me pareceu tão bonito como naquele momento dito por Emery Costa, locutor da Rádio Rural de Mossoró. A felicidade que senti foi algo que não conseguiria verbalizar.

Se eu pudesse voltar a terra como outra pessoa? Nunca me pensei como outra pessoa; gosto de mim assim, com todos os defeitos e algumas qualidades, como diz Clarice em uma carta para sua irmã “Até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...”, mas se for para voltar como outra pessoa eu gostaria de ser alguém com poderes especiais para acabar com todas as formas de violência. Nada me deixa mais triste que conviver com a violência que aprisiona, fere, mata, mutila, silencia e destrói sonhos.

Minha ocupação preferida é fazer nada, apenas ficar deitada em uma rede lendo um bom livro e anotando meus pensamentos. Gosto muito de namorar, infelizmente as muitas ocupações dele nos afasta mais do que eu gostaria. Dar aulas também é algo que adoro fazer.

Tenho verdadeira admiração por homens e mulheres inteligentes. No homem funciona como afrodisíaco. Adoro.  Meus amigos precisam ser bem humorados, honestos e gostarem de conversar. Gosto de conversar. Já passei noites conversando com amigos, vendo o dia nascer e a conversa se estender um pouco mais.

E quando encontro amigos que compartilham o meu gosto literário ficamos horas falando de meus/nossos escritores favoritos: Gabriel Garcia Marques, José Saramago, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Ítalo Calvino, Arnaldo Antunes, Ruben Alves, etc., e uma lista infindável de autores não consagrados, mas que nos encanta pela arte apaixonante de saber usar a palavra.

Meu maior herói na vida real é todo aquele que faz do seu trabalho, seja ele qual for, um instrumento para transformar este mundo em um lugar mais justo e humano. Confesso que tenho um carinho especial pelos médicos e professores. Não necessariamente nesta ordem.

Eu gostaria de morrer dormindo e, se pudesse escolher ainda mais um pouco, abraçada a alguém que amo. Seria o paraíso! Aliás, esta é a idéia que tenho de paraíso.

O meu lema é viver apaixonadamente, lutar por tudo que acredito e nunca desistir de meus sonhos, nem quando os pesadelos resolvem atormentar meus dias.

Maria Olímpia, obrigada pela idéia, foi uma trabalheira realizar este mergulho interior e de lá extrair estas respostas (ou seriam perguntas?), mas foi gratificante. Renovo o convite a todos que passarem por aqui. Ah! Desculpe não ter feito em forma de perguntas e respostas diretas, é que fico mais “travada” e assim fiquei mais a vontade. 





 

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 25/10/2008
Reeditado em 24/04/2017
Código do texto: T1247547
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