CASO ELOÁ: LINDEMBERG E EVERALDO; DUPLA INFERNAL!

Como é engraçado, se não fosse trágico, o curso natural da história! Já dizia a minha avó: aqui se faz aqui se paga; ou ainda: o mundo dá muitas voltas e mais dia, menos dia, a gente acaba se encontrando!

Everaldo Pimentel era um policial militar lá nas Alagoas; viveu o que todo sertanejo “cabra da peste” vive: o sabor da impunidade. Descobriu ainda cedo que polícia no Brasil; na maioria das vezes, significa A FORÇA, A JUSTIÇA E A LEI, principalmente nos recantos mais distantes dos grandes centros, como as cidades do Norte e Nordeste. O sertanejo de farda, em nome do seu prazer, matou dezenas de pessoas a sangue frio; foi integrante de milícia, como tantas outras milícias que ainda existem em todos os cantos, e achando pouco, passou a perseguir colegas que o investigavam, inclusive, recaindo o peso de ter matado até delegados de polícia.

Diz a polícia daquele Estado que Everaldo, que se apresentava como Aldo, chegou a ser detido e apresentou documentos falsos, o que lhe permitiu sair ileso e circular livremente em São Paulo por quinze anos; ainda afirma a polícia alagoana que este moço matava suas vítimas com requintes nazistas, abrindo-lhes o corpo com facas cegas, vendo-os agonizar até o óbito.

Em São Paulo, por não ter conseguido emprego decente, procurou ser segurança privado; para não ficar distante da força e colocando em prática tudo aquilo que aprendeu durante a vida adulta; casou-se, teve filhos, um deles, a jovem Eloá Cristina Pimentel, morta trágica e barbaramente pelo seu namorado Lindemberg Alves.

Everaldo, ou simplesmente Aldo, acabou vendo e sentindo na pele a dor dos que perdem um ente querido; viu sua filha ser refém de um maníaco desequilibrado por 100 horas, sem nada poder fazer, sem nada poder dizer e fugindo ainda de seu passado, quando se escondia dos holofotes da imprensa impiedosa. Mas, reiterando a frase do primeiro parágrafo, chegou à hora do mundo parar justamente na mesma estação em que estava (assistindo) os seus caçadores, a polícia civil de Alagoas. Ele foi visto numa maca, sendo atendido após uma taquicardia, em rede nacional e quando a polícia de lá, deu o alerta a polícia de cá, o Everaldo deu no pé, fugiu, escafedeu-se e sequer pode ver a sua filha sendo deixada em sua ultima morada.

Intrigantemente a vida deu uma lição dolorosa ao homem que é suspeito de ter matado tanta gente; ele viu o algoz de sua filha utilizando uma de suas armas, em seu apartamento, fazendo as maiores atrocidades com a garota, sem poder reagir, sem poder gritar, sem poder fazer nada; dias depois, viu sua filha sendo morta, talvez de maneira similar as suas próprias vítimas, como ocorreu com o Delegado Ricardo Lessa, irmão do Ex-Governador do Estado, que diz a polícia e o Ministério Público que foi por disparos efetuados por Everaldo.

Eu fico imaginando o que sentiu aquele homem ao presenciar todas aquelas cenas; tento imaginar o que passou em sua cabeça para digerir o fato de ver um amadorzinho de “bosta”, controlando uma situação em que ele poderia muito bem dominar, embora desumanamente, de forma catedrática; o Lampião dos dias atuais estava impotente e com medo!

Everaldo deve estar escondido em algum lugar, lembrando de sua filha e de suas vítimas; Everaldo deve estar agora sem dormir, com medo de ser capturado, com medo de morrer; sim, porque se ele voltar a Alagoas para esperar julgamento, dificilmente ficará vivo para contar outras histórias. Acabei lembrando também que na época em que mataram PC Farias e sua namorada, lá em Alagoas, eu fui (sem planejamento) passar um final de semana num hotel da cidade e quando apanhei um taxi no aeroporto, puxei papo com o chofer, perguntando-lhe se ele desconfiava de alguém; sua resposta foi à seguinte: - Quem é PC Farias?

É assim que os alagoanos tratam os assuntos desta natureza; metade da população não sabe de nada e a outra metade são cangaceiros; no interior do Estado, ninguém tem medo de assumir que pode matar por uma questão banal, basta ter algum motivo. É claro que não podemos generalizar, afinal de contas, existem muitos honestos e ordeiros, mas a Lei geral naquelas bandas é escrita a chumbo e aço e se Everaldo voltar lá, terá o mesmo fim que Lindemberg, daqui a alguns dias.

O caso que finalizou com a morte da garota de 15 anos, Eloá Cristina, que levou a queima-roupas, dois tiros, com certeza não teve o fim esperado pelo Brasil e não terá um final, pelo menos pelos próximos dias, meses ou anos; falta esclarecer a participação da polícia militar e todos os boatos que a envolvem; faltam o delegado e o Parquet ouvirem o depoimento de Lindemberg; falta o julgamento de Lindemberg; falta o cumprimento da prisão de Everaldo; enfim, faltam tantas respostas, tantos discernimentos, tantos nós serem desfeitos, que pelo visto, teremos ainda mais crônicas, mais enfoques televisivos, mais manchetes de jornais e muito mais surpresas.

Eu escrevi aqui no Recanto das Letras dois textos sobre o tema; o primeiro, “Eloá foi vítima de quem?” e o segundo: “Eloá, Nayara e as outras pessoas”, tiveram juntado mais de 1 mil acessos, com centenas de comentários a favor de meu discernimento pessoal sobre o caso e alguns contra, que eu deixei publicado, como forma democrática de se fazer do jornalismo e das artes literárias, um carro acessível a todos.

Reitero cada palavra daquilo que escrevi em ambos os textos; que Eloá foi vítima de um conjunto de asneiras, que ela foi vítima da estupidez da família e tanto foi isso que sua mãe em entrevista, chegou a admitir “mea culpa” nas entrelinhas de vários desabafos; reitero que Nayara está na verdade, curtindo cada holofote para ela apontado, seja pela pouca idade, seja pela rara oportunidade que alguém de poucas posses consegue para subir na vida como artista; reafirmo que o pai de Eloá foi covarde duas vezes: uma por não ter orientado a filha e tê-la deixado se envolver da forma que se envolveu com um desequilibrado e a outra, por ter fingido um desmaio quando viu diante de si tantos jornalistas, fugindo e deixando a família para trás, no momento em que eles mais precisavam, enfim, esta história digna de filme de terror, que está em cartaz em muitas cidades do mundo, ainda terá muito roteiro pela frente.

Alguns leitores me chamaram de sensato, realista; alguns leitores até me compararam a outros grandes cronistas brasileiros, nada disso me envaidece, da mesma forma que fui taxado de frio, grosso e insensato e deixei todos os comentários publicados, mas a minha linha de raciocínio continuará a mesma, não mudará; polêmico ou não, é desta forma que penso e aqui, da mesma forma que no www.irregular.com.br, expresso o meu pensamento e jamais quero influenciar a opinião alheia.

Agradeço a cada leitura e convido-os a acessar o meu site www.irregular.com.br

Abraços,

Carlos Henrique Mascarenhas Pires.