TIROTEIO

Tire esta flecha apontada para mim, abaixe esta arma, disparei a gritar, alucinado. Em uns raros momentos, faço reflexões, exercícios, flexões mentais. Sou o mais louco do planeta. Em um parâmetro louco de comparação, só perco para mim mesmo, em loucuras. Por isso, prossigo, afirmando, aos gritos, feito louco, que sou o louco mais louco do mundo, pelo menos deste mundo, desconhecido.

Eu estou tentando falar com Ele. Estou tentando, mas Ele não me responde. Quem é Ele, a não ser Ele mesmo?

Conheco uma pessoa que é tão cheia de si que chega a ser vazia.

Certa vez, conversando com uma nuvem, perguntei: porque te derrete toda, me molha e depois evapora?

Ela nem respondeu, não sei, começou a chorar. Sensível? Mudei de assunto, falei do clima, o tempo está tão mudado, mas não adiantou, foi uma tempestade de lágrimas. Insensível. eu? Não, apenas sou o que sou e o que não sou, ou pensei ser, apenas um fragmento disperso no cosmos. E Ele? Continuo tentando manter contato, mas as respostas às perguntas não chegam nunca.

Procede a afirmativa de que o sol é o que é por falta de concorrente no sistema? Mas dizem que isto um dia vai acabar. Eu acredito. Todas as teorias, mesmo as mais estranhas e descabidas, podem um dia vingar, basta dar tempo ao tempo, não é uma loucura?

Mas depois deste tiroteio todo, o tiro saiu pela culatra, ou seja, a loucura é mesmo um santo remédio, e me curei, saí perambulando pelo mundo, satisfeito, indiferente, diferente de tudo o que tinha sido, ou pensei ter sido, mas falando sério (?), quem consegue viver neste mundo de meu deus sem um pouco de loucura?

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 22/10/2008
Reeditado em 05/05/2015
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