receita de reality show: o caso eloá

Realities shows são mania no mundo todo. A fórmula é quase sempre a mesma: um grupo de participantes confinados em determinado local, devendo cumprir um determinado número de tarefas para ver quem vai sobrar no final. Isso tudo com uma boa dose de intrigas e confusões por todo o lado, como diria o narrador da Sessão da Tarde. A temática costuma variar, indo de culinária à pessoas que querem ficar parecidas com alguém famoso.

Geralmente, esses programas têm sua raiz em países como EUA, Holanda, Inglaterra e por aí vai. A tv brasileira, então, adquire os direitos de produção, transmissão e preparar uma versão adequada aos nossos padrões. É, muita criatividade simplesmente copiar o que vem de fora, né? Entretanto, porém, contudo e todavia, vemos nos últimos anos alguns lampejos dessa saudosa criatividade. Conseguimos fazer nossos próprios realities! Vamos à receita deles:

1) Tenha um lugar para o confinamento

Não, não precisa ser uma mansão com piscina e câmeras por tudo quanto é lado. Pode ser um ônibus parado na Zona Sul do Rio ou um apartamento de um conjunto habitacional no ABC paulista. As câmeras das redes de tv ficarão em volta, em locais estratégicos, até mesmo alugando apartamentos em prédios vizinhos.

2) Tenha um Maníaco

Esse é o grande responsável pelo sucesso, pela grande audiência de seu reality. Se possível, entre em contato com ele via celular ou telefone – nessa fórmula o participante pode ter contato com o mundo externo. Coloque-o no horário nobre, coloque-o pra falar nos programas matinais; não se importe se há crianças assistindo. Tente convencê-lo a desistir de seu plano insano, mas o segure por alguns minutos na ligação. Quando ele for preso, fique de plantão na cadeia, dê informações acerca de sua cela e se há mais algum assassino “famoso” no local.

3) Uma vítima indefesa

Pode ser uma criança ou uma adolescente, de preferência. Exiba a todo o momento, o dia todo, fotos dela bem feliz, colha depoimentos de seus amigos, mostre sua página do Orkut, vá até sua escola e entreviste os professores. Caso ela morra, faça a cobertura completa de seu velório, atravessando toda a programação e com flashes durante todo o dia. Mostre o drama vivido pela família, pelos amigos. Não esqueça de ignorar o sofrimento deles e tente entrevistá-los.

4) O âncora

Caso você apresente um programa policial na tv, vocifere contra o assassino. Xingue-o, grite contra ele, amaldiçoe-o, fale que o país é uma porcaria e que igual a ele já existiram e existem montes por aí. Esse também é o responsável por entrevistar o maníaco ao telefone, sendo amistoso com ele, chamando-o de “meu filho”.

5) O repórter

Fique sempre no local onde está ocorrendo o programa. Fique em cima dos policiais, mande o câmera focalizar bem o assassino. Mande também o câmera focalizar bem a vítima, seu sofrimento e suas lágrimas. Na edição, repita isso tudo exaustivamente e em câmera lenta. Entreviste peritos, especialistas, sempre apontando falhas na ação policial. Também não se esqueça de cumprir o que foi descrito no item 3.

6) Os policiais

Sobre eles, você não tem poder. Mas torça para que sejam mal treinados, passivos e sem iniciativa diante de tudo. Quando for entrevistá-los, faça poucas perguntas, nunca discorde, deixe para fazer isso depois, quando estiver bem longe deles, num estúdio de tv. Se eles resolverem agir só depois de um primeiro disparo, ótimo para você e para a audiência. Filme-os bem de perto, principalmente na hora em que capturarem o maníaco. Se eles derem umas porradas merecidas no infeliz, execre-os ferozmente em horário nobre. Se eles o matarem, aí é um prato cheio para notícia e discussões.