AINDA SOBRE  PALAVRAS ...

         A Palavra exerce um grande e estranho fascínio sobre mim. Ele me domina ao mesmo tempo em que liberta, aprisiona e me faz voar. A palavra nasce e morre sem aviso prévio. Ela é soberana. Sopra em meus ouvidos e cala em minhas mãos. Fala baixinho em meus sonhos e grita na solidão. Sussurra em meus pensamentos revoltos e silencia quando preciso falar.

Busco a palavra capaz de me definir, de dizer de mim e de meu mundo. De traduzir a beleza que vejo na vida, na natureza, no amor, no gesto nobre do perdão. Sei que esta palavra existe, mas se está em mim, não me pertence, apesar de sentir que faz parte de meu ser, sinto-a pulsando em meu coração, misturada ao sangue que escorre em minhas veias, ao ar que respiro, mas não consigo fazê-la chegar as minhas mãos, na ponta de minha caneta.

         Eu queria a palavra certa para falar desse amor que parece vazar de meu coração, que escorre como suor por todo meu corpo. Dessa fé apaixonante que tenho pela vida e pelas pessoas.  Uma palavra que dissesse das certezas que guardo em mim e das infinitas incertezas que me guiam. Que traduzisse minha vontade de ser sempre melhor, de colocar um pouco de paz e ordem neste meu mundo, mas que continua sendo essa pessoa limitada, comum e que nada de grande consegue fazer em prol da humanidade.

         Eu procuro a palavra que, pronunciada, seja capaz de calar a intolerância, a arrogância, o egoísmo, o medo, a hipocrisia. Aquela capaz de fazer nascer o sorriso nos olhos tristes, a esperança em meio a perda, a alegria em meio a dor. Que seque a lágrima dos olhos magoados e arranque a mágoa dos corações feridos.

         Em mim não há, ainda, esta palavra. Preciso encontrá-la (mas confesso muitas vezes duvidar dessa possibilidade). Fazê-la emergir.  Talvez esta palavra seja irmã do silêncio que às vezes me persegue, desse calar que me acompanha quando nada consigo fazer/dizer. Será o silêncio a palavra em gestação? Ou será o aborto da palavra? Palavra é pergunta ou resposta?

Não sei. Sei que sou palavras... Palavras que nascem no silêncio e às vezes morrem sem nada dizer. Palavras que morrem gritando por se arrependerem do que disse. Palavras que abortam sentimentos por serem incompreendidas. Palavras que se renovam na esperança de nascerem melhores. 

*Imagem pesquisada no fotosearch.