O Cavalo e o Boi

Era de manhã (e não uma vez) e eu acabava de acordar. Ao abrir os olhos notei que estava no paraíso, ou seja, na fazenda de papai.

Ouvi então, dois animais a conversar. Era o cavalo a relinchar nas longas orelhas do velho boi.

- Veja só como sou belo. Olhe minha crina brilhosa e macia.

Enquanto isso, o boi estava a ruminar, ouvindo o que dizia o nobre cavalo.

- Tenho tudo o que quero e por isso só preciso parecer dócil. Manter o meu papel de bonzinho. Mas quando preciso de mais do que posso ter, uso minhas artimanhas para conseguir.

E o boi continuava a ouvir.

- Lembra-se daquele dia em que todos os cochos amanheceram vazios? Fui eu quem comi tudo e a culpa foi colocada em você que passou uma semana sem comer nada. A sua comida ia toda para mim, que não me contento com pouco. Viu como é fácil conseguir as coisas?

Nesse momento interveio o boi.

- E eu sempre pago por tudo o que gananciosos como você fazem.

Saíram os dois pelo pasto.

Meses depois, estava eu de volta a minha querida Manhatan quando, ao passar pelo Central Park, encontrei um velhinho. Contei a história passada na fazenda de papai, no Brasil, ao velho. E ele concluiu:

- Eu também sou como o boi. Pago até hoje por coisas que eu não fiz. Mas não posso me esquecer que todos nós se não fôssemos bois, poderíamos ser cavalos. E isto sim, é pior.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 10/10/2008
Reeditado em 10/10/2008
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