CASA È ABANDONADA PELOS DONOS

Meus vizinhos foram embora e deixaram a casa aberta. Estranhei. Foi muito rápido. Agora, alguns estão vindo até a casa e levando aos poucos o que tem lá dentro. Fico pela janela escondido admirando tal cena e, assim, questiono a vida... Somos muito presos as coisas matérias. Veja só, uma casa aberta e outros levando um pouco dela.

O excesso do apego ao materialismo se resume ao que o comércio nos propõe hoje. O consumismo e a vaidade. Enquanto eu não tiver um puxadinho na minha casa eu não serei feliz. Enquanto eu não tiver um carnê com 60 prestações entre as minhas contas eu não estarei satisfeito.

Estou convencido, por exemplo, que comprei um travesseiro semana passada à toa. É um travesseiro denominado “o travesseiro dos astronautas”, moderno, não acumula ácaros e é super macio. Mas é até demais. Não que o meu antigo e velho companheiro travesseiro estivesse ruim, mas eu queria este ultra-moderno dos astronautas. Queria sonhar no espaço. Mas como eu disse, não faria tanta falta neste momento. Mas comprei e agora tento acostumar com a melhor posição para eu me deliciar desse travesseiro “mágico”.

Não que eu seja contra ao consumismo e aos carnês, pois tenho também os meus, mas o que me angustia é o excesso de futilidades ou as compras que são vindas na hora errada por causa da apelação das propagandas e das frases encantadoras dos publicitários. De vez enquanto acertamos na compra...

Bom, os pombinhos que fizeram um belo ninho no pé de romã em frente à janela do meu quarto ficaram apenas um mês como meus vizinhos. Filhos crescidos, a família foi embora e deixou o ninho na romã. Que casa forte. Salvou-se até da chuva de granizo. Agora, outros pássaros vêm e pegam os gravetos... Provavelmente estão construindo outro belo ninho. Uma bela lição para esses momentos tão conturbados na economia e no capitalismo mundial. Vou tentar desfazer de alguns ninhos. Vamos?

Alexandre Lana Lins é jornalista.

www.alexandrelanalins.com.br