Vinte por oitenta
Final de férias. É hora de voltar às aulas. Dois mil e três foi um ano muito bom para uns e muito difícil para outros. Isso é natural. A diversidade de situações é necessária para consolidar os esforços dos que venceram e mostrar aos demais que a vitória é o prêmio apenas daqueles que lutam com vontade e disposição para conquistá-la.
A vida está cada vez mais difícil e competitiva. Não se podem esquecer os alertas dados pelos futuristas, quando proclamavam que este século seria marcado pela sociedade dos vinte por oitenta, ou seja, que apenas “vinte por cento da população economicamente ativa seria necessária para produzir todos os bens de consumo demandados pela humanidade” (Martins, H. & Schumann, H. in A armadilha da globalização, Globo, 1998:10).
Se por um lado, a sabedoria popular consagrou que “a união faz a força”, por outro, a realidade vem mostrando que a vida está orientada mesma é pela máxima do “cada um por si e Deus por todos”. Apesar de este ser o século do conhecimento, das pessoas saberem hoje mais do que jamais imaginaram saber um dia, de se ter tanta gente qualificada para o mercado de trabalho como nunca se teve antes, o mundo ainda convive entre os limites Norte/Sul das disparidades que registram também altas taxas de analfabetismo e índices de desempregabilidade cada vez maiores. Paradoxalmente, esse será também o século do desemprego.
É preciso levar a sério a questão da qualidade daquilo que se está buscando e recebendo nas/das agências formadoras de pessoal. O mercado está cada vez mais exigente e reduzido. Normalmente o que se vê ofertando é uma vaga para isto, uma vaga para aquilo e uma vaga para aquilo outro. Não há espaço para terceiros. Ou se é o primeiro ou então se está decididamente eliminado do processo competitivo.
Não basta ter um diploma. Foi-se o tempo em que ele era indicador de bons profissionais e certeza de oportunidade para laborar no mercado produtivo. Hoje o diploma tem o valor efêmero de uma unidade em série, da indústria que se especializou em produzi-lo em massa, para atender os exércitos de desesperados que se alinham nas filas dos cadastros de reserva do sistema produtivo.
É preciso primar pela qualidade da formação profissional. Muitos andam à procura da escola milagrosa, criticando todas as demais que encontrou pelo caminho. Diz a sabedoria popular que “para o violeiro bom, não existe viola ruim”. E essa é a deixa dos sábios: descobrir que a formação de qualidade depende muito mais do formando do que da agência formadora.
Se o mercado será conduzido na razão dos vinte por oitenta ou se será mediado por outros xis por cento quaisquer, isso não fará muita diferença, se o candidato não estiver reconhecidamente entre os melhores agentes do processo produtivo. Para tanto, deve-se arregaçar as mangas, otimizar o tempo ao máximo e revestir o ato formativo de gana, de uma vontade nunca antes demonstrada e acima de tudo, com a consciência de que só pelo ouro e por nada mais vale a pena investir a nossa vida.
Que esse seja o espírito da volta às aulas!
Izaias Resplandes de Sousa é Matemático, Pedagogo, Gerente de Cidades e acadêmico de Direito das Faculdades UNICEN em Primavera do Leste, MT.