Quanta Ignorância!

Claraluz, perdida num mundo de complicações. Nunca sei o que dizer às

pessoas, pois nunca sei o que elas querem ouvir. E nem adianta dizer

que eu tenho que ser eu mesma, porque essa é uma das maiores besteiras

que já ouvi. Sou obrigada a conviver com um montão de frases feitas que

minha grande inteligência não entende.

Já sei! Não sou modesta, né?

Muitas vezes, o meu ego fala mais alto. Dizem que é normal.

E o orgulho, então? Aquele não sei o que de preservação da espécie,

ou do... Sei lá o que é. Só sei que é horrível ficar por baixo, não ser

a mais esperta, a mais inteligente, aquela que sempre tem a última

palavra. A última palavra sim, desde que essa seja aquela que faz com

que todos fiquem de boca aberta, de queixo caído por que a acharam simplesmente

sensacional!

Como adoro ser elogiada pela minha inteligência e cultura!

E, pobre de mim... Na maioria das vezes, sou eu quem morre de inveja daqueles a

quem eu considero realmente inteligente e interessante.

Sim, porque nem sempre os que acho inteligente são interessantes.

Na verdade, todo inteligente é um chato que não sabe se situar em

lugar algum, em conversa alguma, em situação nenhuma.

Eu acho Gabriel Garcia Marques inteligente. Será ele

desinteressante?

Ocorreu-me que talvez ele seja um solitário...

Amo Sartre e de interessante ele não tinha nada.

Também não sei se ele era realmente inteligente, já que a gente

gosta de anlisar as coisas que a gente não compreende, acha que são

coisas interessante e nem sabemos se são inteligentes.

O que nos torna assim? Eu queria tanto ser uma pessoa normal, dessas

que saem para dançar e transar e mantém a consciência tranquila por

estar de bem com a vida, com a libido, com a minha mente. Ou seja, assim

eu seria interessante. Mas nunca inteligente! Os metidos a inteligentes

como eu, acham que os interessantes não são inteligentes por que eles

vivem.

E por que esse raio desse mundo está entupido de frases sem o menor

sentido como: seja você mesmo!

Que diabos afinal quer dizer isso?

É extremamente ridícula essas idiotices que a gente fala ou ouve e

que não significam coisa alguma.

Uma outra é a tal do: Eu venci na vida.

Que porra é essa?

Como alguém que ainda está vivo pode ter vencido na vida se a cada

dia uma surpresa acontece? Nem sempre agradável, porém, nem sempre

desagradável.

Para variar, aliás. Vida é vida. É surpresa sempre. Nunca estamos

seguros enquanto estamos vivos.

A vantagem é que essa droga a que se chama vida é sempre uma quase

sucessão de mesmices. Ou não! Cada um sabe como rola a sua vida.

Ou seja, o cara acorda, trabalha, paga contas, come, bebe, transa,

ama, odeia, dorme, acorda...

Quer coisa mais besta que essa repetição interminável de coisas? Por

exemplo: depois de um domingo, de sol ou não, sempre, invariavelmente,

vem uma segunda feira. Vale ressaltar que após um dia, chato ou não,

sempre vem uma noite, que não significa que será melhor ou pior que o

dia.

É fantástico, não? A toda rotina é superada por uma expectativa. E

vice-versa.

Entretanto, eu preciso aprender a ser eu mesma, seja lá o que isso

quer dizer, para que eu possa vencer na vida.

Ah, deixa pra lá!

De qualquer forma, não sou inteligente mesmo e nunca vou compreender

os existencialistas como eu gostaria. Pelo menos, para poder mostrar aos

outros como sei falar bonito.

Não é isso que significa ser a gente mesmo? Para mim é mostrar aos

demais ignorantes mortais que li Garcia Marques, Sartre, Kafka e afins.

E que agora eu compreendo o sentido da vida!

http://www.blog-br.com/outrrodaceguinha/page2/&thisy=&thism=&thisd=