Daniel de olhos fechados.

Daniel de olhos fechados.

Há muito não me deparava com tamanha manifestação de humanidade. Genuíno ato de generosidade e amor ao próximo praticado pelos responsáveis pela Orquestra Criança Cidadã do Recife. No palco de um programa de televisão tantas vezes ocupado pelos frutos estragados da cultura de massa, um espetáculo digno de admiração incondicional.

A orquestra, formada por crianças e adolescentes do bairro do Coque, em Recife, é o exemplo de que ainda podemos acreditar na evolução moral do ser - humano, sem parecermos ingênuos ou estupidamente otimistas. Creio na mudança, creio no árduo plantio daqueles que se dispõe a fazer com que crianças e jovens aprendam que é possível evoluir, tornar-se uma pessoa digna de habitar um planeta tão bonito.

Em meio ao turbilhão de declarações conscientes a respeito da desigualdade social e das dificuldades enfrentadas por aqueles rostos, dia após dia na árdua realidade de milhões, um menino se destacou com elegância. Daniel se portou como o artista que é, e eu cheguei a cogitar a hipótese de conhecê-lo pessoalmente. Quanta doçura no sorriso daquele menino...

E no auge da emoção muitas vezes duplicada pela exposição de seu talento genuíno, Daniel fechou os olhos plácidos enquanto seus dedinhos pressionavam firmemente as duras cordas do violino gentil. Fechei também meus olhos já umedecidos por lágrimas de esperança e todo o meu corpo se estremeceu.

Um gigante em cima de um banquinho para se igualar aos demais. Impossível. O vislumbre de um homem na figura de um menino que fora perdido, e agora achado e colocado no seu devido lugar.

Reverências e aplausos infinitos ao poeta dos sons, maestro que conduz corações aflitos com sabedoria e resignação. Meus sinceros agradecimentos a seres sobre-humanos, mentes conscientes do termo cidadania. A semente está sendo plantada. Jovens educados com amor e dedicação, futuros semeadores da semente sadia.

Orquestra Criança Cidadã do Recife. A música que ultrapassa as barreiras do tempo moldando seres de valor e consciência.

Lorena de Macedo