O Bom do Silêncio

Escutei dizer um dia

Uma frase verdadeira

E a peguei como ladeira

O mote da poesia.

Em procura da água fria

Fiz chegar a sua vez.

Vem com grande rapidez

O verso da letra santa:

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez.

É tão verdade, de fato,

Que eu ligeiro recordei

De uma passagem que eu sei

Que aconteceu lá no mato

Sobre a língua e o palato.

Numa época de aridez,

Secura extrema na tez,

Não se molhava a garganta.

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez.

Pra fome de gente ruim,

Sempre com barriga cheia,

Na merenda, almoço e ceia,

Minha vó sempre deu fim,

Mas ela odiava, sim,

Gente com a cinidez.

E quem não espera a vez

Já ficou até sem janta.

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez.

E o causo foi o seguinte:

Um tropeiro andava errante

Com sua tropa adiante

Até que na hora vinte

De comida foi pedinte.

De agrado, minha avó fez

Os pratos sem mesquinhez

Sem barulhos que se espanta.

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez.

Enquanto fazia o trato,

Escutava da cozinha

A voz que da sala vinha

Perguntando sobre o prato.

“Eita, mas que bicho ingrato!”

Foi grande a insensatez,

Cozinhou um goro indez

E jogou ao sicofanta.

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez.

Quando provou do banquete,

Cuspiu fora e se zangou

Pelo manjar que chegou.

Arrastou o tamborete

Dizendo sujo verbete,

Mas vovó com rigidez,

Rebateu sem timidez:

“Reclamar não adianta.

Silêncio é uma manta

Que protege a estupidez”.

Daniel Lira
Enviado por Daniel Lira em 09/11/2023
Código do texto: T7928270
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.