As Farpas da Traição

Amigos peço licença

Para contar minha história

Falar de separação

Sucesso, fracasso e glória

E como um sonho de amor

Vira um filme de terror

No disquete da memória.

Eu era um menino doce

Totalmente apaixonado

Por uma linda menina

Que me deixou encantado

Assim que a gente se viu

Nosso amor se descobriu

E o par estava formado.

Nos amamos sem segredo

Meu fervor lhe devorava

Quanto mais eu lhe queria

Mais a donzela se dava

Ela jurou ser só minha

Eu lhe fiz minha rainha

E o nosso amor começava.

Mas esse amor verdadeiro

Tão logo se desgastou

Por ela ser muito bela

Um outro lhe cortejou

Eu não sei se por maldade

Inocência ou vaidade

Para aquele se entregou.

O que eu pensei ser infindo

Teve início, meio e fim

Ela está só, ele morto

Pense num final ruim

Eu sozinho amargurado

E todo dia um bocado

Morrendo dentro de mim.

Para a justiça da terra

Não basta arrependimento

Quem erra tem que pagar

Totalmente cem por cento

Eu matei, vou ser julgado

E deixo aqui registrado

O dia do julgamento.

Cheguei a porta do fórum

Nervoso e desconfiado

O conjunto de juristas

Formando um colegiado

Tenho consciência plena

De um lado só quem condena

E do outro só condenado.

Fui convidado a entrar

Nesse clima de tensão

A quase dez mil por hora

Batia o meu coração

Vou confessar um segredo

Estava com muito medo

Mas não demonstrava não.

Silêncio no tribunal!

Pra receber o decano

Por favor todos de pé

Pense num momento insano

O júri pra começar

E sem poder me acalmar

Eu disse entrei pelo cano.

Estão presentes na sala

Vítimas e acusado

Defesa e acusação

Testemunhas desse lado

A direita o promotor

E na esquerda o defensor

Que atua pelo estado.

Na mesa bate o martelo

Ligando quem tá presente

Todo mundo se apresenta

Assim elegantemente

Só eu fiquei desolado

Com um ar de condenado

Arrasado e tristemente.

Respaldado no processo

Promotor bem a vontade

Acusava-me narrando

Com franqueza e autoridade

Preste atenção no que digo

Este homem é um perigo

Pra nossa sociedade.

O que ele fez no passado

Pode fazer no presente

Ninguém vai compreender

Um assassino doente

Só estou corroborando

O que ele vinha aprontando

Pode aprontar novamente.

Protesto disse a defesa

Acusa mas não humilha

Se ele cometeu um crime

Foi vítima de armadilha

Pois toda presa se opõe

Quando o predador se impõe

A devorar a matilha.

O que faz o acusado?

Indagou o promotor.

Lhe respondi sou pedreiro

Marceneiro, encanador

Sou construtor, motorista

Sou pintor, eletricista

Sou poeta e cantador.

Me relate o que se lembra

Com base nessas permutas

Eu disse assim não me lembro

Minhas lembranças são curtas

Ele virou para o lado

Olhando pra o magistrado

Dizendo sem mais perguntas.

Então meu advogado

Faz perguntas com teor

Me fale como se sente

Eu disse sei não senhor

Minha vida está no fim

Eu estou fora de mim

Nesse momento de horror.

Como está seu coração?

Respondi fora do peito

Você faria de novo?

Eu disse de nenhum jeito

E ele com consciência

Olhou pra sua excelência

Se dizendo satisfeito.

Depois de ouvir todo mundo

Que demonstraram franqueza

O juiz olhou pra mim

E falando com frieza

Vamos ouvir com cuidado

O discurso do acusado

Em sua própria defesa.

Então chegou minha vez

O juiz chamou meu nome

Leu os autos do processo

Me deu cede, passei fome

Eu vi que naquele dia

Por causa da covardia

Eu perdi meu sobrenome.

O senhor foi acusado

De um crime passional

Foi traído e descobriu

A reação foi mortal

Um crime de adultério

Um homem no cemitério

E o outro no tribunal.

Diga nome e profissão

Filiação, endereço

Relate o que aconteceu

Direitinho do começo

Falando só a verdade

Jure a Bíblia lealdade

E não conte nada ao avesso.

Senhor juíz com licença

Perante a hóstia e Jesus

Me chamo Troya Dsouza

Sou filho de Santa Cruz

Sou brasileiro, pedreiro

Fui casado, hoje solteiro

Meus pais são gente de luz.

Doutor eu vivia fora

Trabalhando pelo pão

Lá em casa tinha tudo

Amor, carinho e paixão

E eu jamais imaginava

Que a mulher que eu amava

Me enganava em traição.

Tenho ciência dos fatos

Aos quais tô sendo acusado

Não sei quem é que me acusa

Com tanto ódio guardado

Pois estou arrependido

E todo dia morrido

Dentro de mim um bocado.

Eu nasci no interior

Me criei na agricultura

Só tive aula do campo

Lá foi minha formatura

Onde aprendi trabalhar

Ser honrado e respeitar

Sem precisar de leitura.

Seu doutor na minha terra

Eu fui um homem bem quisto

Meu nome compra fiado

Perante a honra de Cristo

Matei mas sou inocente

Este caso é diferente

De muitos que se tem visto.

Doutor não nego o que fiz

Pois a mentira me enluta

Minha mulher me traiu

Fazendo vez de uma puta

Foi ela quem me iludiu

E também quem induziu

Alterar minha conduta.

Fui amigo do rapaz

Ele foi da minha casa

Me enfureceu ao saber

Que enquanto eu trabalhava

Pondo meu nome na lama

A mulher e minha cama

Na minha casa ele usava.

Como pode ser tão Judas

E justamente comigo

A ponto de destruir

A reputação do amigo

Se considerei seu nome

Se lhe matei cede e fome

E até lhe ofertei abrigo.

Ela sem o que fazer

Pós a farça descoberta

Pois a culpa no amante

Dando uma de esperta

Foi leviana e bandida

Ele pagou com a vida

E agora a minha é incerta.

Me dizendo que foi ele

Quem fez todo o arrumado

Me acusou de um infiel

Que era fato consumado

Falou que sou fã de orgia

Por isso eu não merecia

Ter minha vida ao seu lado.

Que ele era o homem perfeito

E quem lhe dava valor

Quando eu estava na farra

Ele quem lhe dava amor

Foi assim que a iludiu

Que por isso me traiu

Sem sentir a minha dor.

Seu doutor tem muita gente

Que evita em me olhar

Mas nem sabe o que faria

Se estivesse em meu lugar

Não estou me desculpando

Mas pelo qe eu estou passando

Qualquer um pode passar.

Tudo que faço eu assumo

Para todo mundo ver

Me acusaram de um crime

Que vou pagar sem dever

Condenado injustamente

Um réu inocentemente

Sofrendo sem merecer.

Eu também ia matá-la

Mas pensei no meu menino

Meu Deus como ficaria

Sua vida, o seu destino

Que história desoladora

Filho de mãe traidora

E de um pai assassino

Eu pensei na destruição

O final da nossa aldeia

Meu filho num orfanato

Veja que coisa mais feia

Por causa do adultério

Sua mãe no cemitério

E o seu pai na cadeia.

Doutor eu estou ciente

Do que fiz e sou culpado

A ninguém quero iludir

Buscar ser inocentado

O Senhor sabe que eu sei

Só Deus sabe o que passei

Nesse tempo encarcerado.

O Doutor leu minha vida

E viu um homem decente

Meu erro foi do passado

Nós estamos no presente

Por Deus me deixe voltar

Quero viver, trabalhar

E criar meu inocente.

Minha gente eu convivi

Com pessoas de outro mundo

Gente da pior espécie

Do instinto mais imundo

Pessoas sem coração

Que vivem de armação

Nas brenhas do submundo.

Não acusem sem certeza

Pra não causar injustiça

Por capricho a incerteza

É aliada a justiça

E num descuido fatal

Se comete um grande mal

Por raiva, ódio e cobiça.

Se acaso for condenado

Quero morrer a contento

Aquilo ali não tem vida

Desdenho aqui no momento

Pra o meu filho não crescer

E depois ter que saber

Que o seu pai é um detento.

Nessa hora o tribunal

Juntou-se em forma de couro

Os jurados deram as mãos

Num instante duradouro

E no silêncio abismal

A martelada final

Do juiz deu um estouro.

O júri está encerrado

Grato a quem se fez presente

Eu o declaro culpado

Mas a corte está ciente

O réu pagou o que fez

E que não fará outra vez

Podendo ir livremente.

Não vou atrasar a vida

De um bardo competente

Sua verve é como um rio

Correndo fluentemente

Segure firme o seu pinho

Siga em frente seu caminho

Inestimável docente.

Por essas ponderações

Senti-me realizado

Vindas de um meritíssimo

Me senti lisongeado

Por isso eu vou começar

Pelo mundo apregoar

Este meu grande legado.

Só quem vive uma odisséia

Conhece os desdobramentos

Pra se livrar das forquilhas

Vindas dos maus elementos

Com isso eu tenho aprendido

Boa história e mau vivido

Rendem bons ensinamentos.

Creia na desconfiança

E desconfie da certeza

Cheque os assuntos primeiro

Coloque os fatos na mesa

Que entre o certo e o errado

Você é desafiado

Nadar contra a correnteza.

FIM.

Troya DSouza
Enviado por Troya DSouza em 10/10/2023
Reeditado em 10/10/2023
Código do texto: T7905409
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