O Crente e o Cachaceiro

Eu vou narrar um enredo

Que aconteceu em Taboca

Um bairro de Brogodó

Na praça da Pororoca

Em frente o bar de seu Cuca

Do cachaceiro Pinduca

E o protestante Pindoca.

O Crente, um homem que foca

Na familia e sua igreja

Pastor fiel ao rebanho

Do modo que Deus deseja

Na prece e na pregação

Com fé e Bíblia na mão

Prega tudo e não gagueja.

Filho de Tito Sereja

Empresário e fazendeiro

Investiu nos seus estudos

Que o homem tinha dinheiro

E com muito potencial

Entrou no colegial

Do exército brasileiro.

Foi um grande fuzileiro

Estudou teologia

Aprendeu literatura

Leis e sociologia

Conheceu um monge velho

E migrou para o evangelho

Mudando a filosofia.

Então com muita alegria

Voltou para o interior

Trouxe a esposa, dois filhos

E um diploma de doutor

Pra combater o pecado

Fez um templo ali do lado

E nele foi ser Pastor.

Foi na Rua do Motor

Bem pertinho, eu vou a pé

Tinha a casa do Vigário

O Coreto, o Cabaré

A feira, a delegacia

O Lojão do Mar e Cia

E a Casa do Candomblé.

E entre choupana e Chalé

Lá pelo tempo passado

Foram amigos de infância

Mais o destino pesado

Separou os dois amigos

Foram cumprir seus artigos

E cada qual seguiu seu lado.

Pindoca, mais abastado

Estudou pra ser doutor

Foi tenente, Coronel

Comandante, aviador

Mas se rendeu aos papéis

Para arrebatar fiéis

Tornou-se um grande Pastor.

Pinduca. Um opositor

Que bem diferente do hino

Aprendeu beber cachaça

Desde os tempos de menino

Uma lenda na cidade

Com todos tinha amizade

Por ser um grande ladino.

Sábio, nato e genuíno

Era mestre na gramática

Conhecia o mandarim

Falava em lingua asiática

No baralho estava só

Na sinuca e no totó

Bom de bola e matemática.

Raparigueiro na prática

Casado com Mariquinha

Depois de "bebo" era brabo

Pior que galo de rinha

Um infiel viciado

Com carimbo registrado

No Cabaré de Neinha.

Seu pai, caçava rolinha

Morava longe de casa

Sua mãe, a lavadeira

Zefinha de Dona Naza

Pegava cobra nas mãos

E tinha mais dois irmãos

Cospe Fogo e Come Brasa.

Católico que se embasa

Na fé de Jó e Abraão

Também Romeiro fiel

Do Padre Ciço Romão

E só falava ao contrário

Deturpando o itinerário

Dessa outra religião.

O Pastor revendo o irmão

Naquele degredamento

Tentou encontrar no caos

Pra ele um discernimento

Em forma de lenitivo

Para não ser tão cativo

Desse mal comportamento.

Eu estava no momento

E vi tudo de pertinho

Pinduca, meio melado

Parecendo um coitadinho

De longe o Crente avistou

Disse é agora que eu vou

Me aproximar de mansinho.

Se chegou devagarinho

Foi se fazendo presente

E disse o mundo mudou

Vejo tudo diferente

Mas aqui não mudou nada

Eu vejo a mesma pisada

Que já vi antigamente.

O irmão estava crente

De converter seu amigo

Começou aconselhando

Para livrar do castigo

Desforrando a plantação

Semente da enganação

Na colheita do perigo.

Como se deu eu lhe digo

Esse grande bate boca

Foi violenta a resfrega

Nenhum quis ficar de toca

Nesse combate arrojado

Deixou o dia animado

Pro Mudo, e o Cego, da Mouca.

Cara a cara, boca a boca

Cada qual mais preparado

Expondo fato e razão

Sobre o que tem pesquisado

De luxúria e perdição

Pecador e traição

Pelo que tem estudado.

Meu irmão tome cuidado

Com a banalização

Que te deixa infectado

Com luxo e depravação

Só interage com isto

Não vê a volta de Cristo

E nem a sua salvação.

Vivo da ocupação

Que vive um homem de bem

Da coragem, do trabalho

Coisa que o senhor não tem

Vivendo de coisa feia

Se fala da vida alheia

Fala da minha também.

O irmão já é refém

Das arruaças do mundo

Não reza, nem ora a Deus

Artista do submundo

Bebe, briga, fuma e joga

Usa crack, vende droga

Um exímio vagabundo.

Irmão se julga oriundo

Na teoria sagrada

Mas tá me esculachando

Prova que não sabe nada

Se Jesus não humilhou

Não desprezou, nem jugou

Nenhuma alma penada.

Você está de zoada

Está caçoando de mim

Mas irmão tenha cuidado

Você não sabe seu fim

Jesus chama por amor

Quem não vai, vai pela dor

Porque com Deus é assim.

Gado gosta de capim

O italiano de massa

Protestante de enganar

Os fiéis ali na praça

Valentão gosta de briga

Fofoqueiro de intriga

E eu só da minha cachaça.

Irmão deixe de pirraça

Venha para igreja orar

Não profane a divindade

Pra Jesus lhe abençoar

Venha dobrar os joelhos

E ouvir nossos conselhos

Para o milagre alcançar.

Eu quero recomeçar

Você me mostre que tem

Um caminho diferente

Que leve a Deus ou além

Porque trabalho na praça

Sou bebedor de cachaça

Mas não ofendo a ninguém.

Isso é um grande porém

Não agir com devoção

Se não é temente a Deus

Não tem um bom coração

Por mais que não faça mal

Esse caminho é fatal

Só renderá punição.

Sou um homem de ação

Mas tenho muito cuidado

Nas escrituras sagradas

No que tem me ensinado

Posso até ser diferente

Mas eu sou inteligente

E não me trago enganado.

Você é um relaxado

Filho ruim e um mau pai

Jesus te levanta sempre

Mas volta a tombar e cai

Vive assim embriagado

Conversando leriado

Sem saber nem pra onde vai.

Pra ser de Deus samurai

Equivocado lhe noto

Me confesso, vou a missa

Sou dizimista e devoto

Bebo do meu trabalhar

Ajudo a quem precisar

Do meu bolso tiro e boto.

Se quer ganhar o meu voto

Me diga a fé o que é?

Crente tem que ser fiel

Guerreiro igual Maomé

Não cheio das artemanhas

Querendo mover montanhas

Sem ter um pingo de fé.

Tô lhe achando um "mané"

Pelos julgamentos seus

Pagarei tudo que devo

Ao chegar nos pés de Deus

Erros todo mundo tem

Você sabe muito bem

Não venha julgar os meus.

Que fará perante Deus

Se chegar embriagado

Pedirá uma de cana

Ou pagará seu fiado

Que aqui morreu devendo

Eu já sei, estou dizendo

Que não será perdoado.

Você tá mal informado

É falta de competência

Quer prever o meu futuro

Mas não tem inteligência

Isso aí é coisa feia

Mal julgar a vida alheia

Pautado na prepotência.

Por falar em excelência

Me diga exemplo o que é?

Se só vive embriagado

Na porta do cabaré

Junto com os beberrões

Prostitutas, sapatões

E toda classe ralé.

Para um profeta da fé

Vejo mesmo que estais

A mal julgar essa gente

Como julga a outros mais

Não passa d'um insolente

Arrogante e prepotente

Isso pra mim é demais.

São todos uns marginais

Vivem bebendo e fumando

Falando em se libertar

Saiba que estão pecando

Só vivem de arruaça

Brigar e beber cachaça

Que Deus estão cultuando?

Você está blasfemando

Leva o tempo em acusar

Se é discípulo de Cristo

Pois não sabe praticar

Facilmente se induz

E se for pregado na cruz

Será que vai perdoar?

O que estou a divulgar

A você não enaltece

Falo da Bíblia sagrada

Livro do qual desconhece

Por cultuar a gandaia

Um cabra da sua laia

Confiança não merece.

Qualquer um que lhe conhece

Sabe que não tem razão

Cristo não julgou ninguém

E olhe a sua reação

Por causa do que eu falei

Você profanou a lei

E se tomasse um empurrão?

Chamava mais dois irmão

Para nós lhe exorcizar

E expulsar o mal eespírito

Que tenta lhe derrubar

No mal que você padece

Nem um vivente merece

Por essa prova passar.

Não tente me enrolar

Tagarelando besteira

Você gosta de conforto

Nunca pregou numa feira

Por que lá o sol é quente

Templo sem luxo presente

Não venha falar asneira.

Irmão isso é baboseira

Que eu nunca fui chamado

Para pregar a vocês

Lá no antro do pecado

Mas se tu me convidar

Hoje mesmo eu prego lá

Arrebatando um bocado.

Jesus sem ser convidado

Pregou livre onde viveu

Para cegos e aleijados

Cananeus e saduseus

Pregou em Jerusalém

Da Galileia a Belém

A cristão e fariseus.

Jesus o rei dos judeus

Tinha o poder da visão

Sabia quem realmente

Necessitava de unção

Nada pra ele era incerto

Qualquer lugar era certo

Pra curar e dar perdão.

Você se diz um varão

Trajando seu paletó

Escolhendo onde pregar

Pregando uma coisa só

Mostre que é mesmo crente

Porque sou inteligente

E estou no seu mocotó.

Crente fiel vem do pó

Pra propagar sua fé

Se até o diabo é crente

Porque o senhor não é

Muito embora no papel

Eu quero ver ser fiel

Qual Jesus de Nazaré.

Um crentezinho ralé

Como aqui se pode ver

Nem Jesus falou por ele

Seu pai quem mandou dizer

João doze, quarenta e quatro

Por isso não idrolatro

Nem me diga o que fazer.

Jesus mandou te dizer

Se atente nas profecias

Mateus vinte oito vinte

Não fala em idolatrias

Isso é palavra de Deus

Estarei junto dos meus

Até os ultimos dias.

As pessoas arredias

E os povos pecadores

Todos merecem perdão

Todo mundo tem valores

Seja do mal ou do bem

Deus não condena ninguém

Por conhecer suas dores.

Somos fiéis zeladores

Desdenho a libertinagem

Lá no céu a coisa é séria

Porque não tem fuleragem

Se converta e venha cá

Se você quer ir pra lá

Vá reservando a passagem.

Para a sua pabulagem

Eu não tiro meu chapéu

Sei que você tá blefando

Mas eu não caio em sovéu

Só no último momento

Confessarei à contento

Meus pecados no alvéu.

Você almeja ir pro céu

Mas não cuida do translado

Quer mudar de endereço

Com passaporte atrasado

Morar lá no céu é bom

Fazer por onde é um dom

Só vai quem tá preparado.

Você está preocupado

Com sua mala arrumada

Mas lá não entra bagagem

E a sua é muito pesada

Só levo graça e união

Para trocar por unção

Como aluguel da morada.

Não venha com palhaçada

Desculpas nem invenção

Deus não perdoa calote

Nem aceita enrolação

É bom que esteja seguro

Lá no céu só entra puro

E limpo de coração.

Isso é só superstição

Você não pode falar

Lá no céu não tem wi-fi

Ninguém usa celular

Você comete é burrice

Me diga quem foi que disse

Que Deus vai lhe perdoar?

Pra você conectar

Na internet divina

É só acessar a Bíblia

Aumenta adrenalina

Que é um santo remédio

Para curar dor e tédio

Melhor do que aspirina.

Eu recomendo morfina

Pra dor no braço e no pé

Cachaça pra dor de corno

O varão sabe como é

Mas pra razão obscura

Nem mesmo a palavra cura

Se o mal é falta de fé.

Busque enquanto tá de pé

E não tente trambicagem

Perdão na última hora

Para mim é vadiagem

Você tem a vida inteira

Veja se não faz besteira

Que isso aí é malandragem.

Você diz muita bobagem

Dando lição de saber

Vá pregando na oração

Mas sabendo o que dizer

Que eu bebo minha cachaça

Mas nunca fico de graça

Pra quê vou me converter?

Tento fazer entender

Salvação é caso sério

Mas é um cego da fé

Quer viver em adultério

Em farra e na curtição

Álcool, e prostituição

Desconhecendo o mistério.

Colega seu ministério

Vive uma grande contenda

Irmão atacando irmão

Lhe respeito não me ofenda

Já diz o Padre Laércio

Religião é comércio

Mas eu não estou à venda.

Por favor me compreenda

Eu quero lhe resgatar

Meu irmão está perdido

O dever meu é lutar

Lhe ofertando a salvação

Essa é minha obrigação

Que custe-me o que custar.

Você vive de acusar

Falando de Barrabás

Da mulher de Putifar

De Caim e Satanás

Balaão, Iscariotes

São águas dos mesmos potes

Se afogarão nos umbrás.

Lúcifer não tem cartaz

Pois vivo de vigiar

Por isto é que eu oriento

Aviso e tento mostrar

Que ele veio destruir

Separar e perseguir

Quem não se policiar.

Às vezes chego a brigar

Tem arenga e discussão

Mas tem amor e carinho

Tem chamego e tem paixão

Tem fé com obediência

Tem paz e benevolência

No meu pedaço de chão.

Eu vivo da comunhão

Na pregação e louvor

Culto, oração e mistério

Paz, carinho e muito amor

Com arpa e Bíblia sagrada

Para vencer a jornada

Ao lado do Salvador.

Irmão esqueça o pudor

Confesse a sua verdade

Que na sua igreja tem

Artimanha e má vontade

Irmã de short curtinho

Mostrando seu umbiguinho

Causando adiversidade.

Sim! Sei, é tudo verdade

São obras de Satanás

Mas eu estou vigilante

Firme, forte e dando o gás

Nem me preocupo com isso

E quem não tem compromisso

Estou botando pra trás.

Foi a filha de Zé Brás

Aquele doce brotinho

Passeando pelo culto

Com um belo decotinho

E o seu corpo caliente

Você ficou diferente

Quase perdeu o caminho.

Eu já estive sozinho

Defronte ao passarinheiro

Mas resisti com fervor

Por ser crente verdadeiro

Nunca estou despreparado

Vivo sempre com cuidado

Para enfrentar o balceiro.

O crente sendo pereiro

Tem minha admiração

Tem muito crente mufumbo

Se fazendo de mourão

Dando uma de bom criolo

Mas é casca sem miolo

Sem fé, sem adoração.

Me desculpe a expressão

E vamos parar a intriga

Irmãos não podem brigar

Por que se não Deus castiga

Deixe esse mundo pra lá

Venha pra o lado de cá

Para acabarmos a briga.

Irmão deixe de fadiga

Vá sozinho que eu não vou

Você está preparado

Eu sinto que não estou

Você já é um docente

Já é fruto com semente

Mais eu ainda não sou.

Meu perdão eu já lhe dou

Deus dá o dele também

Meu irmão Jesus lhe ama

E você sabe que tem

A confiança de Cristo

Eu confio, não desisto

Glória a Deus e diga amém.

Todo dia Deus nos vem

Nos dá oportunidade

Vamos abraçar a Cristo

Caminhar pra divindade

Quem tem erros conte os seus

Nós somos filhos de Deus

Irmãos da humanidade.

Não terá fatalidade

Vamos a ressurreição

Cristo pagou no madeiro

O pecado da nação

Provou do beijo infiel

Mas lá padeceu fiel

Para a nossa redenção.

Muito agradeço ao irmão

Tentando me orientar

É um pescador de almas

Está sempre a trabalhar

Nunca temeu imprevisto

Fazendo a obra de Cristo

Jamais deixou de lutar.

Deus me ordenou a pregar

Para homem, mulher e velho

Quem não fizer da doutrina

Terra para escaravelho

Basta não ficar com medo

Com Jesus não tem segredo

Só salvação e evangelho.

FIM.

Troya DSouza
Enviado por Troya DSouza em 30/09/2023
Reeditado em 30/09/2023
Código do texto: T7897552
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