A SAGA DE ZÉ PEQUENO

Quando Zé Pequeno foi feito

À noite num terreno baldio

Do amor escondido, mal feito

Entre uma jovem e um vadio.

Foi lance do acaso, repentino,

A menina estava à flor da pele

O menino sem um preservativo

São coisas que ninguém impede.

E os pais da ex-moça na fé

De que seu anjinho rezava

Mas a reza dela era em pé

Apoiada em uma escada.

Não tinham filha pra farra

Sonhavam com véu e grinalda

Ou seguia as regras na marra

Ou comprasse ela, as fraudas.

O bucho só foi dar as caras

Já perto de trinta semanas

De tanto que ela amarrara,

Só não escondia as mamas.

Abortar era sua esperança,

Expôs a opção a sua gente:

- É pecado matar a criança!

- Não aceito matar inocente!

O pai de fúria quase infartou

Sua mãe chorou desesperada

Da casa a menina expulsou

Pra não ficar envergonhada.

-Expulsa!- Sugeriu um pastor

-Bate e enxota!- Gritou a vizinha

-Eu matava!- Disse um sem amor

-Misericórdia!- Pedia a menina.

Após ela ser descoberta

E ser enxotada de casa

A sua decisão mais certa

Seria livrar-se da carga.

Mas seu coração de menina

Era bem maior que seu fardo

Decidiu não fugir desta sina

E esperou o destino no parto.

Zé Pequeno já no nascimento

Trouxera pra mãe o desgosto

Ela que nascera em setembro

Morrera no parto em agosto.

Zé foi do mundo o esparro

Que o povo amava odiar

Apanhava pra ficar calado,

Apanhava depois pra falar.

Comia do lixo ou do furto

Dormia no frio ao relento

Seu passeio aqui fora curto

Aos dezoito já era detento.

Encontrou o seu pai na cadeia

Mas antes não o tivesse achado

Foi trocado por um par de meia

Por bebidas, cigarros e um rádio.

Enfim liberado do inferno

Quis morar na casa do avô

Se achava ruim os detentos

Foi em casa que viu o terror

As pancadas e xingamentos

Todo dia em seu café matinal

Faziam da vida um tormento

Que para o Zé não teria final.

Zé Pequeno finalmente foi morto

Falecendo, pensou sobre a vida

Não deu a sorte de ser um aborto

Que lhe poupasse de tanta ferida.

Ao fim chegou com grande alívio

Não poderiam mais machucá-lo

Qualquer lugar seria um paraíso

Havendo lá alguém para amá-lo

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 17/08/2022
Reeditado em 17/08/2022
Código do texto: T7584075
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