Prosa de dois amigos

A rapaz a quanto tempo

Eu quase que te esquecia

Uma amizade de infância

Que a muito eu não via

Como vai a comadre

Como ta o compadre

E Joãozinho

E Maria

Tem visto a vizinha

Eita Mulher bonita

Igual aquela

Por lá não se via

Já faz tanto tempo

Que a minha mente vazia

Das coisas da nossa terra

Já nem se lembraria

Como é bom olhar você

Amigo de toda hora

Do roçado a pescaria

Do futebol a cachaçaria

Mais me diga meu velho amigo

Já casou?

E a nossa terra distante

Que um dia nos abrigou

Que vento bom passou por lá?

Que noticia boa você me traz?

A cidade cresceu?

E você onde se meteu?

Caro amigo te respondo já!

Primeiramente te dou um abraço

Que é pra a saudade aplacar

E do meu peito a tristeza saltar

Segundamente passo a narrar

Os acontecimentos de lá

O sol não nos deixou

E a seca a muito nos assolou

O gado coitadinho

Só tem pele e osso

A seca ta tão grande

Que a ultima gota d`água

Do solo a muito já levou

Só restando um torresmo

Onde um dia a chuvarada

Água boa ali depositou

Até as lagrimas de Rosinha

A fonte já secou

Ao invés de rola água dos olhos dela

Gotinha de sangue escorregou

Vou te falar do teu compadre

Que de saúde até vai bem

Mas do seu roçado que pena

Nem palma se deu bem

A comadre a lamentar

Olhando pro céu a desejar

Uma nuvem fininha

Em sua oração a suplicar

Que o bondoso Pai celestial

E a virgem Maria

Suas orações

Viesse escutar

São ladainhas , são lamentos

Das beatas a rogar

Que chova logo

Pro sofrimento acabar

Que o roçado fique verde

Pra o milho quebrar

Com feijão e a mandioca

E a mesa afartar

Com o gado todo gordinho

E muito leite para tomar

Cana de açúcar, mel de engenho.

E a rapadura adocicar

Sem essas coisas meu amigo

É difícil lhe falar

Coisas boas do meu sertão

Pra você se alegrar

No entanto caro amigo

Resta algo para compartilhar

A coragem do sertanejo

Para a seca enfrentar

Somos fortes, somo guerreiros.

Somos madeira difícil de entortar

Não é a falta d água, nem de comida.

Que há de nos derrotar

Com a fé do sertanejo

Uma enxada e um poço para cavar

Viveremos em nosso lar

Com as gotas que o Senhor nos reservar,

Despeço-me do caro colega

Pois tem muito que caminhar

Pro meu sertão acolhedor

Tenho pressa de voltar

Minha casinha de sapé

E rosinha a me esperar

João e Maria no terreno

Ansioso para me reencontrar

Que pena que o amigo

A muito saiu de lá

Perdeu suas raízes

E vive preso sem cantar.