O CORDEL EM CORDEL - Histórico da Literatura de Cordel em versos
O CORDEL EM CORDEL
LITERATURA DE CORDEL
Roberto Coutinho da Motta
( Bob Motta )
N A T A L
Permita eu me apresentar!
Eu sou poeta matuto,
sou irreverente e bruto,
muito prazer, seu doutor.
Sou nascido natalense,
criado caririzeiro,
sou mistura de vaqueiro,
com poeta a trovador.
O meu pai era vaqueiro,
que trilhou pelo progresso.
Sem estudos, fez sucesso,
findou sendo fazendeiro.
Nascí em Natal, na praia,
mas, me criei, seu fulano,
no carirí paraibano,
então, sou caririzeiro.
Pesquiso a nossa cultura,
pelo nosso interior,
com a caneta, o gravador,
câmera e inspiração.
Reviro pelo avesso,
de norte a sul, leste a oeste,
o meu amado nordeste,
transbordante de emoção.
O meu nome é Bob Motta,
e tenho a satisfação,
de fazer uma explanação,
do que tenho na memória,
dizendo em meus simples versos,
os quais eu metrifiquei,
o que na mente guardei,
do cordel e sua história.
Na Espanha e em Portugal,
no Século Dezesseis,
o Cordel, digo a vocês,
já não era algo de novo.
Pois o mesmo enfatizava,
estórias e expedições,
falava das tradições,
ligadas a cada povo.
As narrativas e estórias,
na memória armazenadas,
de pai prá filho, passadas,
do que ficara prá trás.
Romances, guerras, viagens,
faziam partes das listas,
ou vitórias e conquistas,
ode a mitos regionais.
Bem antes do surgimento,
da imprensa, do jornal,
o Cordel era em geral,
a fonte de informação.
Os fatos mui relevantes,
ou passagens corriqueiras,
tinham, de qualquer maneira,
no Cordel, divulgação.
Para chegar ao povão,
na Espanha e em Portugal,
dava um trabalho infernal,
porém, ficava bonito.
O Cordel, antes da imprensa,
era ao povo, apresentado,
num trabalho elaborado,
em caderno manuscrito.
Depois, pequenos folhetos,
de estórias mirabolantes,
eram presos em barbantes,
por cada um menestrel.
Ficavam assim expostos,
manhãs e tardes inteiras,
pelas barracas das feiras,
daí o nome, Cordel.
Literatura de Cego,
era outro nome seu.
Pois D. João III deu,
para o cego Balthazar;
lá da Ylha da Madeira,
a sua autorização,
para vender no cordão,
folheto e se sustentar.
Mas, segundo outra versão,
D. João V promulgou,
uma lei que autorizou,
a se comercializar,
pelos cegos de Lisboa,
obras de sua autoria,
sobre a sabedoria,
e a cultura popular.
Na Espanha era Pliegos Sueltos,
ou seja, Folhas Volantes.
Corrido e Hojas, distantes,
na Argentina, norte a sul.
Cantador é Payador,
Contrapúnteo é o Desafio,
nas margens de qualquer rio,
no México ou no Peru.
No nordeste brasileiro,
pela região inteira,
Foiête, Livríin de Fêra,
Istóra de Lampeão;
Livríin de Istóra da Sêca,
Rumance, Verso de Amô,
Istóra de Caçadô,
de Padíin Ciço Rumão.
Podemos dizer que o nosso,
Cordel puro, do nordeste,
carirí, sertão e agreste,
que fala em suas belezas,
chegou junto com as bagagens,
dos grandes navegadores,
nossos colonizadores,
tem raízes portuguesas.
Segundo Câmara Cascudo,
a Cantoria é inspirada,
numa peleja acirrada;
do Canto Amebeu, nos veio.
Era um Canto alternado,
entre dois opositores.
Geralmente, eram pastores,
gregos, quando em pastoreio.
Esse Canto veio de Homero,
em sua grande epopéia,
em Ilíada e Odisséia;
Mestre Cascudo diz mais:
Era um Canto popular,
que muito se divulgava,
bem como, influenciava,
as populações rurais.
Do início da Cantoria,
no nordeste do Brasil,
sob o céu de azul anil,
se diz, de forma sucinta,
que até nós, ela chegou,
no Século Desenove.
Há documento que prove,
em mil oitocentos e trinta.
O primeiro repentista,
do Brasil foi um baiano.
E nascido, salvo engano,
no Século Dezessete.
Foi Gregório Matos Guerra,
o popular Boca do Inferno,
nosso Cantador Eterno,
aplaudí-lo, nos compete.
É uma jóia rara, eu acho,
a arte do Cordelista.
O verso do repentista,
na luz do lampeão de gás.
Onde houver uma Cantoria,
viola, glosas, risadas,
estão sendo preservadas,
as raízes culturais.
O Cordel mostra prá gente,
Sétima, Décima, Sextilha,
a Parcela ou Carretilha,
prá ser lida ou se escutar.
Mostra a Glosa, a Gemedeira,
o Improviso, a Obra Feita,
muita gente se deleita,
com o Galope à Beira Mar.
Tem também a Trova ou Quadra,
Ligeira, em versos, um abuso,
que hoje estão fora de uso,
nas Cantorias, irmão.
Pé de Parede, o Quadrão,
em várias modalidades,
e muitas variedades,
do que se chama Mourão.
No autêntico Desafio,
o Martelo, o Mote em Dez,
versos são Linhas ou Pés,
que eu mostro em minha poesia.
Tudo aqui que lhes falei,
nessa exata ocasião,
são, na cidade ou sertão,
as Regras de Cantoria.
É essa, a minha bagagem,
que trago e lhes apresento.
Nesse preciso momento,
me entristeço ao afirmar:
A Identidade do Povo,
que é para ser preservada,
quase sempre é desprezada,
por quem dela, é prá cuidar.
Minha luta é por amor!
Pois Cordel, é, na verdade,
o Rg., a Identidade,
Raíz do nosso Povão.
E enquanto eu viver, preservo,
prá que tão rico legado,
jamais seja rotulado,
como Espécie em Extinção...
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte
Da União Brasileira de Trovadores – UBT – RN
Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio G. Norte
Da Associação dos Poetas Populares do Rio G. Norte
Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore
Da União dos Cordelistas do Rio G. do Norte-UNICODERN
Do Instituto Histórico e Geográfico do Cariry-PB
Rua Clementino de Faria, 2075 – Morro Branco
Natal-RN
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