A cada dez minutos
Vergonha alheia é proteção
De maníaco estuprador
Quando ofende a mulher
Atropelando o pudor
Em país criado machista
Pra ato sujo e calculista
O silêncio é o fiador
Assim caminha o Brasil
Estatísticas severas
Em dez minutos mais um estupro
Sexo bruto sem paquera
Violadas não denunciam
Constrangidas silenciam
Carta branca à besta-fera
Porque além de ser violada
Terá que ter maior coragem
Quando denunciar o ato
Está sujeita a outra abordagem
Inquirida tal qual um réu
Vai experimentar do fel
Do machismo e sua chantagem
Vítima vira acusada
Suspeita de dar motivos
Onde, como, com quem anda?
Premissas pra seu cativo
De sua fala, desconfiam
De suas mágoas, caluniam
Razões pro ato furtivo
Há estupro coletivo
Seguido de assassinato
Violência a incapazes
Há ainda quem curte o ato
Divulgando em toda a rede
A fúria da raivosa sede
Expor a vítima a boatos
Mulher feita, jovens, crianças
Franzinas ovelhas aos lobos
Até enquanto este Estado
Fizer vista grossa ao lodo
Que é sim um país machista
Racista e elitista
Sua democracia é engodo
Brasil que assim aprova
Como o poder se hierarquiza
Masculino — branco — rico
Sociedade monopoliza
Na base, gente sem cobre
Feminina — preta — pobre
No sumidouro, agoniza...
Dez minutos, mais um estupro
Injúria tornou-se vulgar
Outra infância maculada
Outra honra cai no azar
Quando o respeito ao oposto
Sem piedade é deposto
Mais famílias vão chorar
Obs: Olá amigos autores!
Os textos que apresento hoje (26/01/2019) fazem parte do livro ESTUPRO ARMA DE GUERRA, publicado pela PERSE.
Boa leitura!