Bandeira genocida
Os grandes desbravadores
Eficazes em espreita
Querem avançar fronteiras
Que Tordesilhas estreita
Assim anseia Portugal
Triplicar seu matagal
Quais os riscos da empreita?
É bem certo que esbarre
Em população nativa
Mas não será empecilho
Sua defesa é primitiva
Diante destes mercenários
Delinquentes sanguinários
É mão de obra cativa
Este é o custo do “progresso”
Do Brasil que vai nascer
Sertanistas mata adentro
Não irão retroceder
Índio que estiver na trilha
Alvo fácil pra matilha
Os nativos vão sofrer
Conhecidos os Bandeirantes
Bandidos e genocidas
Estrelam livros, museus
Com missões bem sucedidas
Tornam-se grande manchete
Em inícios do dezessete
Do governo tem a guarida
E não eram poucos homens
Conte mais que uma centena
Muitos são bem celebrados
Nenhum digno de pena
Mas recebem homenagem
Como homens de coragem
A História lhes deu cena
Bartolomeu Bueno Silva
Mais famoso, Anhanguera
Quis saber do ouro índio
Com artimanha severa
Atiçou fogo em cachaça
Fez valer a ameaça
Que pinga, água do rio era
Atreveu-se no Goiás
Em companhia do filho
Seguiu bem passos do pai
É implacável caudilho
Arauto de mau agouro
Olho grande em todo ouro
Com dedo sempre ao gatilho
Manuel Preto, outro paulista
“Destemido explorador”
Latifúndio teu, Freguesia
De índios, cruel caçador
Do Tietê ao Paraná
Enobrece-se ao Alvará
De aldeamentos, destruidor
Nativos cristianizados
Pela doutrina católica
Sua cultura destruída
Por força de outra retórica
Serão agora mão-de-obra
Força pra suja manobra
Pivô de tão forte cólica
Outro podre capitão
Certo Raposo Tavares
Segue rumo do Tietê
A pilhar os hectares
Tem a frente Barueri
Índios tupi-guarani
Expulsos de seus lugares
Sua fama é de outrora
Mui além das homenagens
Nenhum vírus é mais letal
Que a sombra de tua passagem
Comanda grei bandoleira
Grilhando tribos inteiras
Com a força da sabotagem
Centenas de prisioneiros
Mulheres, velhos, crianças
Quem ousar deter o trecho
Sofrerá cruel vingança
Aldeias incendiadas
Aos cães, a carne surrada
São os paulistas a matança
Está surgindo um país
Ao custo de um povo bravo
Que resistiu todo instante
Pra não se tornar escravo
Castigado pela Cruz
Que autorizou o arcabuz
Em busca de ganho chavo