Seu Arnaldo
A porteira escancarada
Seu Arnaldo conversando
As vaquinhas coitadinhas
Tinham lá os seus planos
Mudar de pasto e de vida
Um êxodo nada humano.
Penderiam suas fregérias
Abasteriam os seus frangalhos
estrume regurgitando
Da pele da planta e cajado
O couro a carne e o leite
Seu Arnaldo ia tirando.
As vacas tomaram prumo
Rumavam pra outros campos
Os seus passos eram lentos
De longe se via o intento
Seu Arnaldo proseando,
Um olho fitava a reza
e o outro mirava santo.
Os touros seguiam tranquilos
Suas exigências eram qualquer
Coisa que as vacas quisessem
Lá só falava as muié,
seu Arnaldo dizia
Algo sobre um bicho no pé.
Rápido e certeiro o matuto
Soltou algumas praguejadas
Eia! volte misera ! deixe de ser enfuzada
Se aqui tem pasto e água
Largue essa idéia ilada
dê leite dê coro, e depressa!
Deixem de ser aziada.
Seu Arnaldo era um velho franzino
com apenas um galho se armou
Falou algumas dizices
E o gado todo parou
Ouviram atentamente
Nada do que o velho falou.
Ele não sabia mugir
Elas só sabiam muá
Voltaram todas pro pasto, nada mais a reclamar
O velho aprendeu a lição, carne disse, vou importar
Couro irei produzir e leite na fonte tomar. ( inocência!)
O que as vaquinhas tão tolas
Ainda não percebera
Era que o velho e matuto Arnaldo era um mago e não freira,
Ensinara-lhes uma brincadeira
Dessa que quase se esquece
Não pode ser de primeira, senão a cabeça se aquece,
As vacas que falavam vaquês, decoraram o idioma da fera
Aprenderam que vaca que muge vai se calar na panela
Vaca que não fala vaquês penso ser a tal amarela.
Algumas vacas ainda muam
Outras já nem lembram mais,
Algumas até se assustam, quando alguém lhe diz muás?
Deram a ele seu leite, a carne o couro e o calor
Seus filhos seriam médicos
Poetas e até escritor,
Só nunca podiam sair,
De onde seu Arnaldo mandou
Seu Arnaldo é uma grande figura,
isso eu não nego a mim,
Falou tudo que disse
Ordens e mandos e assim,
suas casas fazendas e escravos
era algo quase sem fim,
sem dizer uma palavra em vaquês
só lhes dando água e capim
Seu Arnaldo é foda!