O triste dia de Corumbiara

Sobre terra Aikanã

Banhada do Guaporé

Dos belos e fortes peixes

Pescado de boa fé

Iguaria de Rondônia

Da robusta Amazônia

Maior obra de Javé

Lama e sangue se misturam

No solo fértil da mata

O perpétuo latifúndio

Sob ordens da chibata

Quando triste dia de agosto

Revelou o tumor exposto

Da burguesia pirata

Que desafia até Deus

O fazendeiro cruel

O destino do quinhão

São mandos ao coronel

Ao lote Corumbiara

Morte a quem meteu a cara

Ocupar área de cartel

Terreiro de nome santo

A Fazenda Santa Elina

Sem-terra querem plantar

Assim sua fé os destina

No espaço evasivo

É posse do coletivo

Pra agricultura mais fina

Assim começa a história

De famílias camponesas

Na terra está seu destino

Boa cultura com certeza

Da colheita familiar

Brasil Novo vai brotar

Contra o fim da avareza

Caminhões bem carregados

Ocupam lote improdutivo

Abandonado por grileiro

Com cuidado ostensivo

Por jagunço bem-mandado

E pouco comissionado

Com tão pouco incentivo

Mais um pobre analfabeto

Mas armado até os dentes

Sua escrita é a carabina

Assassino reincidente

Só é bom em contar tuas mortes

Calcular não é teu forte

Engatilhado indigente

Corre pra avisar o patrão

Que com as terras nem se importa

São apenas seu abrigo

Quando o cobre vir a porta

Bom plantio não lhe interessa

Contra ocupação tem pressa

O Social é letra morta

O camponês vai plantar

Honrar tua grande nação

Produzir em todo o solo

Tua habilitação

Terra fértil quer semente

Alimentar tua gente

Com sincera produção

Mas não será em Santa Elina

Neste lote encastelado

O preguiçoso grileiro

Tem o aval do Estado

Expulsão aos ocupantes

– Broncos títeres, avante

Defendam mais um caiado

Em madrugada covarde

O massacre impiedoso

Bomba e tiro em toda parte

Aparato belicoso

Pra jagunço e militar

De preferência, matar

Homicídio doloso

Ao pobre sobrevivente

A agonia da tortura

Dos grãos de Corumbiara

Crescem brotos de usura

Festeja o fazendeiro

É tua vitória, bandoleiro

Derrotada agricultura

Mulheres tristes com órfãos

Contabilizam o ataque

Têm fome e roupa suja

Não resta nada do saque

Bem diferente do ócio

Dos donos do agronegócio

Elegantes em seus fraques

Altas risadas, piadas

A festa da impunidade

No grande Brasil sem lei

Protegida a propriedade

Desta Carta mal regida

Por canalhas, reprimida

Abatida lealdade

A falsa democracia

Que esta Nação escraviza

Capital e latifúndio

De mãos dadas curtem a brisa

Pro justo resplandecer

Será difícil vencer

A quem o povo tiraniza

FERNANDO NICARAGUA
Enviado por FERNANDO NICARAGUA em 19/07/2017
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