O DEBATE ENTRE LULA E FREI BETTO NA PORTA DO PURGATÓRIO!

Como Dante no Inferno

Nos tempos de antigamente

Vi Frei Betto em um sonho

Pisando em uma serpente

Espantando a Mosca Azul

Que picou o Presidente.

Estava no Purgatório

Em busca do Lulalá

Que foi mandando pr’alí

Por Deus sem lhe consultar

Frei Beto ia convencer

Lula a no Inferno ficar.

– Quando eu te conheci

Tu era um trabalhador

Vinha do meio operário

E era o proclamador

De um novo tempo e ordem

Que o povo tanto esperou.

– Meu Freizinho por favor

Lembre da nossa amizade

Que passou dos vinte anos

Com muita sinceridade

Se eu pequei foi sem saber

Fiz só por necessidade.

– Eu não terei piedade

Pois sei da sua intenção

Acompanhei sua luta

E doei meu coração

Por isso quero que tu

Vá viver junto do cão.

– Deus sabe que eu tentei

Ser honesto e honrado

Mas ao chegar ao poder

Fiquei do lado errado

Eu quis ajudar o povo

Mas fui mal orientado.

– Mal orientado não

Você foi pernicioso

Fez somente o que quis

E fechou muitos acordos

Com antigos inimigos

Que tinham salários gordos.

– Mas a luta do operário

É pra todos ganhar bem

Não adianta lutar

Para ser um Zé Ninguém

Alguém só é respeitado

Por aquilo que obtém.

– Que bom que no purgatório

Tu fala toda a verdade

Pena que não usaste um dia

Da tua sinceridade

Revelando para mim

A sua ambigüidade.

– Não me fale tão difícil

Pois eu não sou um doutor

‘Umbigüidade’ pra mim

É quando o cabra tem dor

Bem cá no pé do umbigo

Que lhe causa um estupor.

– Estuporado estou

Por ouvir tanta asneira

Eu te ensinei a falar

Sobre coisas mais ordeiras

Mas vejo que continuas

A só cuspir baboseiras.

– Não venha com preconceito

Pois eu também te ensinei

Tu só conhecia o povo

Dos livros e das matinês

Era um Frei enclausurado

Sobe os livros de mil Reis.

– Reconheço que você

Foi o maior representante

Do povo enquanto lutava

De forma esbravejante

Mas se encantou com o poder

E o champanhe espumante.

– Não toque nesse assunto

Pois é o meu ponto fraco

Deus há de me perdoar

Pois larguei logo o tabaco

Mas ta difícil largar

O meu vício pelo álcool.

– Não quero aqui entrar

Nos assuntos pessoais

Pois é justamente aí

Que a reputação cai

Melhor seria que nada

Fosse uísque paraguai.

– Nunca bebi uísque

Que fosse falsificado

Charuto só do cubano

Churrasco só do bom gado

Ser Presidente é bom

Tu é só um despeitado.

– A inveja não faz parte

Da minha reputação

Nunca fui alienado

Queria a Libertação

Fui preso e torturado

Por crer na revolução.

– Revolução é tolice

Coisa de intelectual

O que o povo quer mesmo

É um dia ser o tal

Não importa se com luta

Ou de forma ilegal.

– Toda a sua consciência

Passou por um revertério

Nunca vi ninguém mudar

Assim de modo tão sério

O meu desejo maior

É te ver no cemitério.

– Praga de padre não pega

Pois seria um pecado

Desejar o mal ao próximo

Pra Deus não causa agrado

Bem que o Freizinho podia

Me anunciar perdoado.

– Deus ‘tá te dando a chance

De pagar pelos seus erros

Aproveite o momento

Pra se livrar dos apegos

Dos amigos de má fé

Revele todo o segredo.

– Eu não sabia de nada

Fui o corno da história

O último a saber tudo

De maneira vexatória

Sei que o meu governo

Agiu de forma irrisória.

– Você podia ter feito

Um governo diferente

Mas achou muito mais fácil

Maltratar a sua gente

Enriquecendo os ricos

De maneira indecente.

– Os pedal da bicicleta

Tem menas força pra trás

O futebol e a política

Se parecem por demais

Por isso eu jogo bola

Que é coisa que tu não faz.

– Os movimentos do povo

Estão muito insatisfeitos

Os sem terra e os sem teto

Os sem saúde sem emprego

Você nem olha pra trás

Virou um grande pelego.

– O companheiro se esquece

Do quanto que nós sofremos

‘Tou com o poder na mão

E não vou deixar por menos

Aproveitarei de tudo

O povo acaba esquecendo.

– Um militante da esquerda

Pode vir a perder tudo

Liberdade emprego vida

Por agir com atitude

Menos perder a moral

Que é sua maior virtude.

Frei Betto estava frustrado

Com tudo que aconteceu

Ele creu no Fome Zero

Mas a fome não cedeu

Virou esmola pros pobres

E o seu sonho morreu.

Os escândalos constantes

Desmoralizam o governo

A elite aproveita

Pra no povo meter medo

Que Lula é igual a todos

Só ‘tá lhe faltando um dedo.

Frei Betto ainda insiste

Com as causas populares

Mas não crê num novo líder

Somente em comunidades

Com o povo irmanado

Pela solidariedade.

Luís Inácio está

Tentando a reeleição

Sorrindo de orelha a orelha

Com os aliados de plantão

Que querem manter a vida

Dentro do antigo padrão.

Salvador – Ba / Março 2006