QUASE

Eu quase ouvi tua voz

Eu quase gritei feliz

Eu quase teu nome fiz

Cá dentro da minha foz

Eu quase chorei feroz

Eu quase sorri de medo

Eu quase fiz um brinquedo

Dos teus braços infantis

Eu quase fui um aprendiz

Na arte do teu segredo.

Eu quase quebrei a cara

Eu quase que morri cedo

Eu quase meti o dedo

Na tua orquídea rara

Eu quase meti a vara

No lombo do teu orgulho

Eu quase dei um mergulho

No lago fundo do pranto

Eu quase rasguei o manto

Do teu bruxo de entulho.

Quase que bato a porta

Quase que te chamei

Quase que eu te dei

Os frutos da minha horta

Quase que a língua corta

Os gomos finos do beijo

Quase que eu te vejo

Só pela última vez

Quase que a estupidez

Cega o teu desejo.

Quase eu te vi sorrir

Quase feri tua boca

Quase minh'alma roca

Chamou para te acudir

Quase eu te vi partir

Partida sem ter o elo

Quase que o teu cutelo

Me decepa ao meio

Quase que te odeio

Porem eu só te anelo.

Quase cuspo o teu rosto

Quase que eu te curei

Quase que eu pintei

O sol no teu olho posto

Quase que fui o oposto

Da tua cor preferida

Quase lambi a ferida

Só pra te ver sarada

Quase que minha ossada

virou cinzas sem vida.

Quase que te segurei

Quase que te fiz correr

Quase que senti doer

A febre por onde sangrei

Quase que eu fui um rei

Num castelo assombrado

Quase que fui sepultado

Na cova do teu coração

Quase que fui um leão

Por te sempre enjaulado.

Quase que te enlouqueci

Quase que te devorei

Quase que te judiei

Quase que eu pereci

Quase que eu mereci

O gozo da tua glória

Quase fui a escória

Das almas loucas,lascivas

Quase que deixei cativas

As dores cá na memória.

Quase eu fui um lampião

Quase eu fui teu cangaço

Quase que fui mormaço

No solo dessa paixão

Quase que eu fui sertão

Sem nada que se perca

Quase eu fui a cerca

Da tua cama mimada

Quase que fui enxurrada

Sobre tua terra seca.

Quase que fui um Romeu

Quase que te envenenei

Quase que eu derramei

Esse teu pranto no meu

Quase que você me deu

O amor de Julieta

Quase ao som da trombeta

Anuncias-te meu fim

Quase que fui um jardim

Sem flor e sem borboleta.

Quase foi tudo pra nos

Quase chegamos ao fim

Quase és tudo pra mim

Quase que estamos sós

Quase que fomos os nós

No mesmo cordão unidos

Quase que fomos paridos

Do ventre fértil do amor

Mas QUASE não tem valor

São só QUASES perdidos.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 28/04/2017
Reeditado em 01/05/2017
Código do texto: T5983570
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.