ARRASTÃO

ARRASTÃO

Silva Filho

O Brasil tem sistema tributário

Na medida do que chamam “arrastão”

Vai passando, vai levando, sem perdão,

Tudo aquilo que se ganha com salário.

O Governo sempre foi mui perdulário

Sem medir as consequências do estrago

O Orçamento é instrumento muito vago

Ocultando o valor do desatino

VOU MORRER SEM SABER QUAL O DESTINO

DA CARRADA DE TRIBUTOS QUE EU PAGO.

Vinte e cinco por cento só na luz

Idem, idem, se o produto é gasolina

O desvio é a máquina que refina

E os ladrões vão doando nossa cruz.

Tem imposto indireto no cuscuz

Na cebola, pimentão e no quiabo,

Macaxeira, no tomate e no nabo,

Na costela, no miúdo e no pepino,

VOU MORRER SEM SABER QUAL O DESTINO

DA CARRADA DE TRIBUTOS QUE EU PAGO.

Do que ganho dou ao imposto de renda

Quase um terço na tabela progressiva

Mesmo assim o país vai à deriva

E o progresso é somente uma lenda.

Quem assume o Poder nunca desvenda

O que há em Brasília junto ao lago

Já pensaram contratar um grande mago

Pra contar o que vem de inopino

VOU MORRER SEM SABER QUAL O DESTINO

DA CARRADA DE TRIBUTOS QUE EU PAGO.

Se eu vou ao hospital, me pedem um Plano,

Se eu saio de casa, me dão bala,

Se eu vou viajar, me levam a mala,

Inda dizem os ladrões: Foi um engano.

As estradas servem pra qualquer insano

Tomar litros de absinto em um trago

E o imposto fica muito mais amargo

Quando a gente se descobre um beduíno

VOU MORRER SEM SABER QUAL O DESTINO

DA CARRADA DE TRIBUTOS QUE EU PAGO.