Horizonte
Maus ventos vêm do Leste
Novas terras alcançar
Dá carona a lusitanos
Pro Oeste explorar
Fortes naus na correnteza
Vão ancorar na pureza
Deste povo secular
Portadores de má sorte
Têm outros olhos pra riqueza
Tesouro da grande mata
É adorno pra princesa
O litoral maculado
Está agora malogrado
Por manhas da realeza
Era vinte e dois de Abril
Mil e Quinhentos do Cristão
Outras ideias que chegam
Em cultura e oração
O legado dos romanos
Atravessou o Oceano
Pra oprimir outra nação
Preciosa estranheza
Neste choque cultural
A nudez do primitivo
As roupas de Portugal
Os verbos desencontrados
Nos gestos são ilustrados
Em esbarro cordial
Encontro bem amistoso
Presentes e galanteios
Bugigangas da Europa
Aos nativos pra rateio
E abrem-se grandes portas
Desta desmedida horta
Vai demorar o passeio
De onde plantar tudo dá
Registro meticuloso
Os nativos elegantes
Solo de acervo vultoso
Esta terra tem vigor
Notícias ao rei mentor
Vão deixá-lo orgulhoso
Agora Ilha de Vera Cruz
Sofrerá novos conceitos
O estilo do nativo
Será vítima ao rejeito
Sua cultura e boa-fé
Curvadas à Santa Sé
Arrogante em seu direito
Cristianismo goela abaixo
Diga adeus ao bom Tupã
Os europeus são intolerantes
À original festa pagã
Não aceitam a linda Jaci
Nem Anhangá ou Guaraci
A Cruz é seu talismã
Não encanta mais Yorixiriamori
As Ianomâmis belas
Calou-se flauta de Akuanduba
Sua melodia singela
Ceuci a grande furtada
Sua lavoura e a sua morada
Estão sob outra tutela
Heresia do homem branco
Em Cristo se legaliza
Os nativos doutrinados
Sua mão se escraviza
Ouro e prata a branca fome
Terra boa dada a um nome
Que o próprio rei baliza
Capitanias egoístas
Gente pouca em larga terra
Expulsos os fortes nativos
Do litoral a alta serra
Assim nasce o latifúndio
Nosso amargo gerúndio
Perpetuando a “justa guerra”
Quinhentos anos de história
De indígena matança
De inglória e tristeza
Não pouparam nem crianças
Genocídio escondido
Pelo capital bandido
Esta é a nossa herança